sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Apocalipse-SE!

Hoje eu tive que chorar. Viver com urgência, mas sem pressa, não é uma lição fácil. A cabeça quer, mas o corpo não. Mas como a cabeça quer muito, ela não abaixa. Ela acalma e espera pacientemente até que o corpo abra uma brecha e acabe superado pela cabeça. E o dia acontece em movimentos de jogo de xadrez.

Todas as manhãs abrir os olhos para o dia que pode ser o último. Todo o dia é uma revelação, um começo e um fim. Meu apocalipse particular.

Pode-se dizer que as teorias sobre a origem e o fim do mundo, o apocalipse, são barulhentas: Começam num "Big-bang!" e viram um grande "Bum!" e fim. Acabou. Não deixa de ser irônico...


O último dia de minha vida é sempre extraordinário: Tomo banho, como, resolvo coisas, cuido da casa, amo pessoas, faço orações,admiro o que lindo me parece. Faço boas leituras quando posso. Agradeço.

Acho que as pessoas tendem à ter medo de viver seu último dia, por isso tanto estardalhaço em torno das teorias apocalípticas. Viver o último dia pode assustar quem não vive isso rotineiramente. Será que é tão difícil se dar conta de que é no mínimo ilógico jogar fora toda a elaboração do mundo? Seria um desperdício de energia imenso criar a natureza para simplesmente acabar com tudo depois, e Deus não desperdiça.

Talvez a resposta esteja na estatística. Cerca de 95% das pessoas do mundo inteiro acreditam na existência de Deus, mas eu diria que talvez só uns 5% desses confiam em Deus. Por isso o medo do fim do mundo. Não temem exatamente o fim do mundo, mas temem viver seu último dia. O desespero de não saber o que fazer com as últimas 24 horas daquilo que conhecem. 

Ora, se Deus quisesse matar a humanidade não precisaria de anúncio. Faria e pronto, sem barulho, sem alarde, porque só quem sente falta de holofotes é o homem. Não ficaria anunciando "- Olha, eu vou acabar com você e você só pode se descabelar e correr ao supermercado". 
Quem já teve uma experiência próxima com a morte sabe o quanto isso é silencioso.

Fico imaginando o quanto as pessoas realmente querem acreditar nisso, viver esse filme, achando que serão especiais o bastante para permanecer enquanto os humanos inferiores morrem. Vão construir abrigos, comprar e estocar alimentos, pilhas, velas.
Porque é mais fácil tomar essas providências do que as que são REALMENTE necessárias: a principal delas é acordar. 

Acordar para a vida que se reinventa todos os dias ao nosso redor e a necessidade de cada um se reinventar também juntando-se ao movimento da vida e do tempo. A coragem de rasgar-se e ressurgir com uma nova essência, consciente de que nenhum homem é absoluto, completo. Pertencer.

A coragem de criar novos conceitos em vez de se deixar escravizar por eles. Sim, porque os conceitos devem ser meras ferramentas de trabalho, não um fim em si. Devem ser pedras de apoio para os pés, não muros de prisão.

Conceitos engessados viram verdades perigosas.

Viver em função de conceitos é uma forma míope de enxergar o mundo, é querer engarrafar tudo o que nos cerca colocando em engradados que serão cobertos com a poeira do tempo, da estagnação. A vida não cabe em catálogos.

Viver o último dia é acordar para o fato de que amar e realizar boas obras é uma atitude no mínimo pobre e hipócrita se o motivador for o ego e não o amor gratuito.
As pessoas que se colocam como superiores umas as outras, seja espiritual, intelectual ou psicologicamente já sucumbiram à essa armadilha. Porque o olhar orgulhoso não permite tirar o véu que oculta a verdade sobre si mesmo.

O senso de superioridade mata a riqueza do diverso. A genialidade da orquestra está no fato de não constituir-se apenas de violinos, mas também de trompetes, percussão, cellos e flautas, piano. Tudo harmonizado pelos movimentos do maestro que entende que cada instrumento é importante para um contexto mais amplo. É a supremacia do contexto sobre o conceito. As coisas mais valiosas da vida não cabem em significações.

Sim, é tempo de apocalipse. Apocalipse que vem revelar o que é oculto, obscuro. Expor e purgar, sanar, exorcizar, curar e despertar novamente. Apocalipse cujo conceito pode assustar mas que no devido contexto pode trazer oportunidade de descoberta.  Porque sem abrir os olhos não é possível ver o que é revelado diante e dentro de nós. Ainda que diante da morte do que fomos, aprisionados no conceito do que achamos que era vida.

A vida vai mudar. O mundo vai mudar. Isso acontece todos os dias.

Portanto...apocalipse-SE! 

Segue aí o vídeo de hoje.
Um grande abraço desejando um maravilhoso final de semana, de olhos, coração e mente bem abertos para todos nós: Olhos e coração de criança e a mente de um adulto aprendiz.




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