quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Cale-se!


Noite úmida, anoiteço na varanda.
Um gole de vinho tinto contemplando a embriaguez do mundo.
Um coração cansado e um olhar que procura janelas no céu noturno.
Ainda que elas não se abram amanhã, as estrelas estarão lá para mostrar que está tudo funcionando de um modo que talvez eu ainda não consiga ver.
Só minhas insensatas reflexões parecem fazer sentido neste mundo corrompido.
De quê valem as asas de uma borboleta presas em um alfinete?

Na mente, uma lista com as coisas que fazem a vida valer à pena. Mas a vida é presente ou é pena? Se pena é condenação...
Então a vida tem que valer o mundo. Preciso ver o mundo além das pessoas, dos vícios, dos valores, das verdades.
Calo a cabeça, mas o mundo não se cala. Há excesso de vozes no mundo, vozes que nada dizem.
E o mundo não se cala, nada ouve - O quê houve?

A inadimplência de uns em edificar sobrecarrega outros com sua carga. Ser forte é pena, o presente é dos fracos.
Janelas emperradas. Onde está Atlas, que deixou o mundo aqui?
Vou tirando os espinhos da carne, um à um. Perdoa-me por me deixar ferir, carne!
Calo minhas críticas porque o mundo é indiferente a elas. 
Mas há uma fome que não se conforma.
Há uma sede de mais sanidade. Asas insistentes.
Hoje o cansaço é meu direito. Ninguém o negue. Hoje descansa o guerreiro.

Dentro do cálice arredondado cabe a projeção do mundo, girando no turbilhão líquido e vermelho. A Terra  é azul, o mundo não.
Calo meus pensamentos, meus sentimentos, meus sentidos. 
Por quê não pertenço mais aqui?
Grito no último gole vermelho do cálice - e nele me calo pois preciso adormecer.
Bebi o bom conteúdo, a vida que vale o mundo.
O vinho acabou, o cálice, vazio,  já não importa mais. 

"Eu disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo"
João 16: 33

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