segunda-feira, 29 de julho de 2013

Adeus, mundo cruel!

Em meio ao fluxo caótico de um trânsito de fim de tarde, a saída por uma ruazinha estreita pareceu uma boa opção para um trajeto alternativo. No final do quarteirão, uma placa indicava: sentido obrigatório. Era o sentido oposto ao que eu queria seguir. A saída que eu buscava iria requerer mais algumas voltas, mas ainda assim era melhor do que ficar presa indefinidamente em um caminho conhecido.

A realidade é um cenário essencialmente cruel. Ela é feita de sangue, suor e cicatrizes. Traumas processados em um liquidificador na esperança de uma digestão mais suave. Tentamos sempre que possível fugir um pouco desse caos por vias alternativas, mas as placas de sentido obrigatório  nos conduzem de volta à luta. Aí vem a pergunta: seria esse sentido obrigatório o sentido da vida? E o mundo cruel nos parece então "sem sentido", esvaziado em um buraco negro de incertezas.

As vias estreitas que muitas vezes nos parecem a saída não conduzem a soluções fáceis. Não há soluções fáceis para coisas difíceis. O que não quer dizer que, com mais algumas voltas, elas não sejam possíveis.

Para alcançar essas soluções, é preciso dar adeus ao mundo cruel. É preciso fazer a escolha por uma via alternativa. É preciso deixar de ser vítima. Assumir a responsabilidade pela mudança de prioridades e se permitir o direito de optar sem culpa. 

Eu conheço o medo de ir embora. Ainda assim, adeus, mundo cruel! Vou seguir pela estrada nova.

Boa semana. Segue o vídeo muitíssimo especial de hoje:


sábado, 6 de julho de 2013

Melro


"Cantam os melros, calam-se os pardais". 
Ditado popular português


Ele estampa brasões e bandeiras. Em algumas culturas representa a alma, em outras, as tentações, tamanha a beleza de seu canto.
O tordo negro, o melro, o "quase só".

Há mais pardais que melros.
Ao contrário dos pardais, que piam alegres e saltitantes o dia inteiro, são sociáveis e freqüentam lugares urbanos em busca de migalhas dos homens, o melro é solitário, adquirindo comportamento gregário só em tempos de migração para o bem da proteção dos grupos. Mas não é por conta desse comportamento que quero falar do melro. A razão que me move é outra.

O melro tem um canto único, melódico, e que costuma ser ouvido em um momento específico do dia: a hora mais escura, que antecede o nascer do sol. Ele anuncia que o amanhecer está próximo. Com seu canto melodioso, profetiza instintivamente a luz que está por romper a hora mais escura trazendo a alvorada. 

Ele, o melro, canta como que para nos fazer lembrar de que não há alvorada sem a escuridão que a precede. Às vezes estamos acordados, insones e atordoados em uma vigília angustiante e involuntária, surpreendidos pela hora mais escura. Nesse momento  irá cantar o melro. E os pardais estarão calados.