quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Apocalipse e o vôo do rato rouco

Café da manhã. Hora de preparação para responder ao chamado do  dia.


Bombardeio de notícias sobre a indignação do povo com as falcatruas políticas que se desdobram no Brasil e no mundo, comoção com o triste acidente aéreo que ceifou esta semana mais de 70 vidas, centenas de sonhos e as histórias de pais, filhos, maridos e profissionais que não irão mais acontecer por conta de uma pessoa corrupta que quis economizar no combustível. 
Mensagens, mensagens, mensagens. Vídeos e áudios incansavelmente repassados, convocações para protestos, o público expressando sua revolta e a lama que impede o movimento aumentando a cada pá retirada deste poço.
Um suspiro profundo, olho para o controle remoto e dou um click que restabelece o silêncio.

Cabe perguntar o quê está acontecendo e por quê está acontecendo.
As emoções acaloradas das pessoas impedem-nas de ver a verdade. Em vão serão os brados retumbantes em microfones, celulares e megafones que criam a ilusão de protesto nas ruas e na internet, sem antes o devido silêncio de um momento de profunda reflexão individual: MEA CULPA, MEA CULPAMEA MAXIMA CULPA.

A corrupção política brasileira reflete a corrupção do povo brasileiro.
Exigimos dos políticos brasileiros uma conduta íntegra que, como cidadãos, uma larga maioria não tem. Quantos devolvem dinheiro a mais recebido, quantos de nós respeitam as vagas preferenciais de estacionamento e as leis de trânsito e contravenções penais, a paz pública, o espaço do outro e sua liberdade? Quantos votam em troca de benefícios à sua própria classe ou sindicato, em troca de panelas, empregos, cestas básicas, migalhas? Quantos fazem campanha eleitoral por seus amigos e parentes apenas visando benefício próprio sem sequer conhecer suas propostas?
Quantos pagam aos seus devedores, quantos dão o seu melhor nos serviços contratados em vez de fazer mal feito em prol do menor esforço ou do menor custo? Quantos respeitam horários para não "roubar"o tempo alheio? Quantos se preocupam realmente em respeitar o próximo? Quantos deixam de agir escudados no discurso do "isso não é problema meu" ou "não me pagam pra isso", ou  "não é comigo"? Todos esses comportamentos são, também, desonestidade, demonstram a corrupção do caráter, da integridade que daria algum som aos clamores de protesto.

Foi corrupção que levou ao acidente aéreo que chocou a nação esta semana. Foi corrupção individual de cidadãos que conduziu os corruptos ao poder.

O Brasil é hoje uma nação infectada por ratos que almejam voar, e eles não estão apenas no congresso, no senado federal, no Itamaraty. Eles estão, aos milhares, nas ruas, no serviço público, nas universidades, igrejas, pequenas e grandes empresas e corporações. Muitos estão em suas casas, consumindo as próprias famílias. Muitos são nossos "amigos". Muitos somos nós mesmos.  Todos querendo fazer muito barulho, sem se dar conta de que suas gargantas estão deterioradas, todos roucos.
Ratos querendo ser águias. 




Quando, finalmente, formos capazes de ascender ao nível de consciência maior que descortine a grande verdade, de que todo o mal do mundo começa em nossos próprios pensamentos e atos , menores que sejam, então poderemos ter voz novamente para esperar dos outros um comportamento melhor. A cura do mundo começa, em primeiro lugar, na minha própria cura.

Peço pelo apocalipse dos ratos roucos. Apocalipse, em grego, significa revelar, tirar o véu. Quando o véu que mantemos por vontade sobre nós mesmos for retirado e nos enxergarmos nus como Adão e Eva, expulsos do Éden da comodidade das desculpas e da procrastinação, assumindo a responsabilidade sobre nossa natureza, agindo para nosso aprimoramento e desintoxicação do ego, então nossa rouquidão será curada.


Ratos não voam, roucos não gritam. Limpemos a sujeira de nossas próprias calças antes de bradar sobre a sujeira da roupa alheia. O Brasil não tem apenas um governo corrupto, é hoje uma nação corrupta, oriunda de uma raiz contaminada desde os primórdios da sua história.
Para o nosso bem e salvação, precisamos romper essas correntes que nos aprisionam ao padrão comodista, imediatista, paternalista e irresponsável de comportamento.

Vamos viver mais esse dia. Segue o vídeo:

ALERTA DE PLÁGIO: Plágio é crime e está previsto no artigo 184 do código penal. Conheça a lei Lei 9610.




sábado, 20 de fevereiro de 2016

A Pedra e a Borboleta – Voando em Silêncio


A borboleta pousou sobre a pedra, mas algo fez com que a pedra esmagasse a borboleta. Só restou a pedra.

De repente o sol se pôs, o céu se fechou em espessas nuvens de agonia e os trovões se confundiram com os gritos dos seus pensamentos. Não há como evitar a tempestade.

Só há silêncio no coração. O que havia sido criado como certo começa a ruir ao redor, puxam-lhe as asas tentando arrancá-las e os ossos das pernas parecem pulverizar.

O evento, que para alguns pode parecer violento e triste, é bem mais corriqueiro e necessário do que se pensa (ou deseja).

Diante da indiferença, da rudeza cruel das palavras que ferem, diante de atos e gestos incompatíveis com sua natureza, alguns preferem dar as costas a si mesmos, negando sua face, permanecendo seguros longe dos espelhos.

Diferente destes, a nova lagarta irá esquadrinhar seu casulo enquanto aguarda novas asas – sim, ela voará outra vez e outra vez ainda .

Só no escuro é possível contemplar as lágrimas cintilando no escuro como se fossem estrelas na noite e deixá-las cair para que dêem lugar a novas luminescências.

O tempo... o tempo é contingência...

Por um momento, só há o silêncio e a pedra.
E na pedra foram escritas lições.

Lições que trazem a certeza de que nunca nos pode faltar uma direção para o olhar, confiança em nossos propósitos, respeito aos nossos limites e a determinação de ir além do medo...

Mas nada de abrigar-se da chuva – ela sai sob a água torrencial, dando-lhe a oportunidade de lavar seu pó ainda que corra os riscos de quem sai na tempestade... pois é preferível a morte de alma limpa à uma vida soterrada na pesada poeira do abandono de si.

Confessa o medo e usa o sorriso como escudo.
As asas de quem é capaz de ver o belo nunca são arrancadas, apenas mudam de cor.

Não há como evitar problemas, aflições nem dores. Estamos todos expostos à vida e a vida segue seu curso a despeito de nossas urgências...

Mas há como atravessar as sombras e  sair delas ainda mais fortes, se pudermos ouvir nosso silêncio. Isso significa saber quem se é e o rumo que é justo seguir.

É a garantia que temos de que nossos ossos serão restaurados e as asas de nossos sonhos não serão nunca arrancadas.

Porque a vida sem sonhos é vácuo, e se não podemos ser absolutos, jamais aceitemos ficar obsoletos.

Não aceitemos ser  pálidos, opacos nas brumas da rotina, perdidos como zumbis na esteira automática de quem não tem destino.

Não há como viver um novo futuro usando velhas muletas.


Há tempo de agonia, há tempo de restauração e há tempo de novas trilhas, novos vôos, nova vida. Sempre.