quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Felicidade Revelada


O dia de celebrar o Natal se aproxima e a troca de mensagens de final de ano se intensifica.
Não há garantia de dias felizes, nem de noite feliz.
Não há garantia de que os nossos problemas serão resolvidos, nem de que seremos amados pelas outras pessoas.
Não há garantia de soluções, respostas, satisfação.

Mas podemos garantir que, apesar de tudo isso, de muitas vezes ficarmos cansados do mundo, seremos melhores e que saberemos reconhecer o melhor presente de Natal de todos: a vida. 
Desejo  que o Natal de todos nós comece agora e se prolongue por todos os dias do resto de nossas vidas.

Esse vídeo é uma celebração verdadeira do Natal que precisa acontecer dentro de cada um de nós a cada manhã: a capacidade de constante renovação, de regeneração do espírito, de uma esperança legítima, de uma humanidade autêntica e mais elevada. O grande presente de Deus pra nós. Que esse vídeo ilumine de verdade o seu Natal.
Obrigada, Louie Schwartzberg!

Feliz Natal todo o dia.



quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Obediente



Eram 3 horas da tarde quando desisti.

Com a intensa sensação de dormência em toda a cabeça, as tonturas, sabia que se ficasse em pé iria cair.
Estava sozinha e não podia ser imprudente.
Estava pagando a conta pelo estresse dos últimos dias. Havia tomado a medicação para dor de cabeça pela manhã e não queria tomar de novo. Resolvi descansar.
Deitei, senti todo o corpo adormecer e me entreguei.
O quarto todo foi sumindo...sumindo
Acordei sufocando, como quem retorna de um mergulho demorado demais.

Estava em meu quarto, mas era como se meu quarto não fosse o mesmo.
Havia mais alguém ali que eu não conseguia ver, mas percebia a presença, uma densidade.
Eu ouvia dentro de minha mente e falava sem mover os lábios.

- Eu morri? Perguntei.
- Não.
- É sonho...
- Não.
- Pirei. Ou então é o remédio.O que é tudo isso?
- Levante!
- Mas eu não quero, estou cansada...
- Levante!
- Pra quê? Estou tonta, vou acabar caindo...
- Está com medo? (era uma voz andrógina, firme e gentil ao mesmo tempo, sem dúvida econômica com as palavras)
- Não.- Respondi.
- Quer desistir? 
- Não...não sei, desistir de quê, o que estou fazendo aqui?
- Vai desistir? (quem quer que fosse, sabia como me provocar - eu já estava ficando indignada com a situação)
- Não, não vou desistir!
- Então levante!
- Quem é v...? 
- Faça o que precisa fazer, eu vou estar com você.(o sujeito gostava mesmo de dar ordens, comandos curtos, me senti um cachorro em treinamento - levanta, rola etc. )  
- Mas o...eu...o que... - pronto, agora ele (ou ela) me deixou confusa. 
- Levante! 

Senti meu corpo cair rápido...mais rápido. Abri os olhos. Estava em meu quarto e uma sensação de tranquilidade tomava conta de tudo.
Pouco mais de duas horas haviam passado.
Não sentia mais tonturas, mas estava meio entorpecida, como que recuperando os sentidos.
Uau! Preciso ler a bula desse remédio! - pensei.

Sentei por um tempo, a cabeça parou de formigar.
Levantei, olhei para a cama: - Sou tão obediente.... 

Segue o vídeo:



domingo, 2 de dezembro de 2012

Pressão

Hoje preciso gritar. Mas não consigo. Se tivesse que descrever a coisa toda em uma única palavra seria essa: pressão.

Um abalo emocional desencadeou uma crise e eu simplesmente não me reconheço de dois dias pra cá.
A cabeça toda voltou a formigar, está difícil engolir qualquer coisa e faço esforço para movimentar o lado direito da face.Tenho tonturas e a cabeça voltou a doer.
Parece que finalmente vou terminar a caixa de remédios que estava abandonada há meses.
Estou cansada de hospitais, agulhas e máscaras de oxigênio. Não vou pra lá hoje, não me importa.
Vou dormir e vou levantar amanhã.
O comportamento de alguns seres humanos me leva a perguntar como é possível que a nossa raça ainda exista, e confesso que me fazem ter vergonha de ser da mesma espécie.
Não, não somos da mesma espécie. Pessoas que se aproveitam da fragilidade de saúde alheia para obter proveito não podem ser humanos...são algum tipo de besta que desconheço. 
Ganância é um demônio insaciável, cinismo é coisa com a qual não consegui me acostumar - nem pretendo.
Estive chutando meu cérebro pelo chão porque não consigo entender. Talvez nem deva.
Para os que sentem essa pressão tanto quanto eu, os inconformados com a injustiça, com a usurpação, não tenho forças para gritar hoje mas achei quem fizesse isso por nós:


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Fazendo Bolo


No último dia 22 de Novembro completei 9 meses desde o diagnóstico. Uma longa e trabalhosa gestação de mim mesma. 
Naquele dia 22 de Fevereiro, pelas considerações dos médicos, não pensei que chegaria tão longe.
Faltam 24 dias para o meu aniversário, o tumor reduziu um pouco de tamanho. O cabelo cresceu, a visão normalizou e continuo sem juízo. Considero isso um milagre.

Hoje pela manhã recebi uma mensagem de S.O.S.

Pensei em quantas pessoas estão vivendo situações complicada de alguma forma, enfrentando algum desafio.
Encurralados, que olham para todos os lados e não encontram portas ou janelas. Precisam tomar decisões difíceis, não podem expressar como se sentem, estão oprimidos de alguma forma, sufocados. Muros de injustiça e incerteza, falta de motivação. Obstáculos que drenam sua energia e disposição para viver, trabalhar, usufruir mais dos dias.
Como mudar esse cenário? Muita gente poderia dizer que "Não há receita de bolo pra isso".
Gente demais sabe o que precisa ser feito, mas quase ninguém sabe como. Sem a receita, os ingredientes não servem pra nada, não produzirão resultado. Vão apodrecer sem uso.
Resolvi arriscar e compartilhar uma receita. Só essa, porque as da minha cozinha guardo à sete chaves.

Anote aí:

Receita do Bolo da Vitória


Ingredientes:

Para a massa:

Saiba quem você é, onde está e onde quer chegar. (pode combinar com boas leituras, boas conversas e uma boa dose de reflexão)
Autenticidade para assumir a si mesmo
Coragem apesar do medo
Amor apesar de tudo
Sorrisos para dar leveza

Para a cobertura:

Agressividade sem violência
Ambição sem ganância
Generosidade sem ingenuidade
Humor para adoçar

Junte todos os ingredientes da massa sem enganar a si mesmo sobre algum dos ingredientes para não "solar" o bolo.
Assar em fogo brando para não queimar o fundo e a massa ficar crua - use bem o seu tempo.
Quando a massa estiver pronta, prepare a cobertura adicionando os ingredientes conforme a necessidade numa tigela de bom-senso, lembrando sempre de usar a colher da adaptação mexendo em movimentos suaves e regulares para não desandar.
A cobertura estará no ponto quando não escorrer da colher nem desprender da tigela.
Cubra o bolo e polvilhe com fé.

Sirva acompanhado do conteúdo do vídeo à seguir, saboreando bem cada fatia:


terça-feira, 27 de novembro de 2012

Café com Maquiavel


Hoje tive um momento para um café bastante reflexivo.
Confesso que estou cansada da pouca profundidade alcançada por nós quando temos que valorar nossa existência.

O quê move o mundo? O quê lhe move?
Dizem que o que move o mundo é o dinheiro.
Discordo. O que move o mundo são os líderes que usam o dinheiro.

São os líderes que formatam as sociedades, as organizações, a família.
Somos líderes de nossas vidas a cada decisão tomada.

Dizem que o mundo como conhecemos hoje vai acabar. Será? Até que ponto seremos capazes de promover essa mudança?

Como docente de Seminários de liderança aqui, nos Estados Unidos e na Ásia, preciso me manter sempre atualizada em termos de tendências, ideologias, conceitos sobre esse tema. 

Recentemente li entrevista de Gary Hamel, autor de "Liderando a Revolução" (um dos meus preferidos), e do recente  "O que importa agora" (Ed. Elsevier).  Ele exalta a necessidade de priorizar a inovação desburocratizada e que proporcione autonomia (descentralização do controle) na tomada de decisões, baseada na confiança, nas competências e em valores claros e bem definidos. Quantos de nós vive essa realidade no dia-a-dia?

Aí você me pergunta o que gestão de empresa tem a ver com a vida prática. Tudo. Empresas são como organismos e os organismos funcionam ordenadamente para cumprir "metas" estabelecidas por cada órgão para manterem-se vivos.

Donas de casa são líderes e definem os mercados. Mães e pais são líderes e formam agentes da sociedade e das economias assegurando o futuro das nações (emocionalmente equilibrados ou não, fortes, fracos,íntegros,corruptos).

A maioria da sociedade, já dizia Maquiavel, é incompetente para liderar sua própria vida e forma uma grande massa de manipulação. Mas isso é assunto velho...

Porém, Maquiavel, em sua "Arte da Guerra"(sim, nem só de Sun Tzu vive a estratégia) fez algumas considerações que parecem extraídas de qualquer revista Época ou Carta Capital de hoje: mudou o prato, o bolo continua o mesmo.

Costumo dizer em minhas aulas que toda a forma distorcida de liderança é corrupta. Porque já não focará no propósito e sim nos interesses agregados ao processo. É como um remédio cujos efeitos colaterais são mais intensos do que a melhora. Pensamos em corrupção, pensamos na política. Mas a política está muito além das esferas governamentais. Toda a vez em que você lida com conflito de interesses em casa ou no trabalho, faz política. A política é o que sustenta as relações do mundo civilizado (às vezes de modo pouco civilizado) - ela é que define para onde vai o dinheiro, quem será favorecido. Quando o filho negocia a mesada com o pai, quando a esposa quer ir à um show que o marido não quer, quando decidem as férias, o que comprar, quando as empresas definem prioridades e quem influencia quem, faz-se política.

Falando em influência, essa é a arma essencial da política. Para corrompê-la ou para o avanço do interesse comum.

O mesmo Maquiavel, em seu livro "O Príncipe" diz, na pág. 214: "O primeiro método para estimar a inteligência de um governante é olhar para os homens que tem à sua volta." - por quê? Resposta simples: influência. - Você está à altura daquele por quem é influenciado.

Assim é que a euforia por mudanças precisa ser vista com olhos mais atentos: mudar é necessário, mas a borboleta jamais deve mudar para lagarta. A flor não muda para botão. Uma coisa é certa de qualquer forma: Para mudar é preciso coragem e ousadia. Você tem?

Guitarras em riste, segue o vídeo:


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O rei está cego

O Natal celebra a vinda de Jesus Cristo à este mundo para dizer verdades.
Foi morto pelo mesmo motivo.
Suas verdades eram inconvenientes. Comprometiam a  comodidade da dominação, da corrupção, da manipulação.
O lícito nem sempre convém, já disse o apóstolo Paulo.
A música Amazing Grace diz " Eu estava cego mas agora eu vejo".
Porque é preciso VER - dade para que não se construa castelos sobre solo fraco.
A cegueira leva ao colapso, à ruína.

Quando o rei está cego, o reino fica mudo - porque não adianta expor a VER-dade diante de quem não quer enxergá-la.
Não adianta dar ao rei óculos, lunetas para que enxergue melhor ou mais longe porque ele simplesmente não quer enxergar aquilo que não convém. O rei não tem tempo para  a VER-dade.  
Não adianta construir altas torres no castelo de um rei cego, porque a única serventia delas será de trampolim para o salto dos suicidas da corte que não suportarem mais a cegueira do rei, e o rei ficará só, sem ter quem apóie a estrutura de seu reinado, que ruirá. O rei não enxerga seus VER-dadeiros amigos, aqueles que nem sempre concordam com ele...antes, manda decapitá-los.
Vivemos num Império de mentiras convenientes, de relacionamentos convenientes e onde falta coleta do lixo debaixo desse tapete.

Eu não quero mais mentir. Não quero mais esse peso sobre minha morte.
Este tempo precisa acabar, porque é um reino de cegos, corruptos, fracos que se alimentam da carne da mentira que os faz apodrecer lentamente por dentro.
O seu mau cheiro nauseante não consegue mais ser disfarçado com falsos sorrisos nem falsos abraços.
Sim, muitas vezes o rei cego e seu séquito de deslumbrados corruptos vencem.  " Aos vencedores, as batatas" - podres, para que não haja desperdício de boa comida.
Mas pensando bem, eles não vencem, apenas prevalecem por um tempo - o que é vitória afinal, na visão pessoal de cada um de nós?
Saio do reino porque sou inconveniente. Levo meu cajado e as velhas botas. Prefiro a sujeira autêntica de pecador ao manto sangrento dos nobres da corte. Escolho o caminho pedregoso da trilha ao piso de vidro do palácio.
Vou em busca do reino do ar fresco.
Quando chegar lá, vou cuidar do jardim e fazer o jantar.

Segue o vídeo:

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

23 de Novembro 31:8


Aquilo não era um pesadelo, era real.
Acorrentada, não dava para fazer muita coisa naquela situação.
Estava trancada ali quando o nível da água começou a subir.
A chave para abrir o cadeado estava perto, mas era quase impossível alcançá-la com os dedos... 
A água gelada causava dor nas articulações, paralisava os músculos.
O queixo tremia e os dentes batiam à ponto de trincar, a voz não saía de tanto frio, não conseguia gritar.
A morte era iminente e àquela altura o afogamento parecia inevitável.
O coração batia lento e a visão estava nebulosa.
Aproveitando a leveza proporcionada pela água que matava os sentidos, escorreguei como pude alguns centímetros, quando finalmente consegui tocar a chave e com algum resto de energia movi os dedos devagar e a chave encaixou de algum modo que não dependeu de minha vontade.
O cadeado se abriu e as correntes cederam.
Finalmente poderia nadar rumo à saída.

Recebi hoje o resultado dos últimos exames, e o laudo médico conclui que, comparativamente com o exame anterior, " houve leve regressão nas dimensões da lesão neoplástica (tumor cerebral) ". Está cedendo. A cada milímetro reduzido, nos aproximamos mais da vida.

Deus permitiu que todo o corpo congelasse, mas preservou as mãos o suficiente para que os dedos tocassem a chave.

" O Senhor, pois, é aquele que vai adiante de ti; ele será contigo, não te deixará, nem te desamparará. Não temas, nem te espantes." 
(Deuteronómio 31:8).

Acreditar sempre, andar sempre, sorrir sempre. Derrota não existe no coração daquele que sabe pelo quê luta

Quer saber como me sinto? É só ver o vídeo: 


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Câncer


São Paulo, manhã chuvosa.

"- Ai, que coisa triste!" , disse a manicure balançando a cabeça enquanto se preparava para começar a fazer minhas unhas.
Com a cabeça ela acenava para o topo da pilha de revistas, e continuava: "O pobre do Marcos Paulo (ator e diretor de cinema e televisão) acabou morrendo...eu achei que ele tinha se curado do câncer..."

Uma mulher que havia chegado há pouco e se jogado no sofá ao meu lado respondeu enquanto olhava a revista à que se referia a manicure: "- Ah! Mas isso é assim mesmo, quem tem essas coisas de tumor sempre acaba morrendo logo, não adianta. Eles dizem que estão bem, daí morrem no hospital."
A manicure, que sabe do meu tumor no cérebro, manteve a cabeça baixa e me dirigiu um breve olhar constrangido, começando a dedicar atenção extra à lixa de unhas.

"- Essas doenças não têm cura " , continuou a mulher, "- Se a pessoa não morre do tumor, morre do estrago que ele deixou." Folhou um pouco mais a revista e depois levantou-se num rompante para ir falar com o cabeleireiro.

Sorri para a manicure e disse "-Tudo bem, tá tranquilo." Ela resmungou alguma coisa sobre os comentários da mulher e tratamos de mudar de assunto.
Mas o que aquela mulher disse me deixou pensando: Não basta extirpar tumores, é preciso cuidado com o efeito residual que eles podem deixar. Efeito residual que pode causar outros males e levar à morte. Isso quer dizer que não basta tratar o foco de um mal em si, é preciso que haja uma cura mais ampla de modo a neutralizar a ação residual desse mal que pode ficar latente ou escondida em algum ponto não percebido.

Se você não extrair  o câncer ele vai matar as células saudáveis e elas morrerão. Se não tratá-lo em todos os âmbitos do organismo, inclusive com a mudança profunda de hábitos, pensamentos e percepções que isso acarreta, morrerá devido ao efeito residual desse câncer. Isso se aplica não só ao nosso corpo, mas à tudo na vida.

Quantos tumores existem em sua vida, em seu ambiente de trabalho, em seus relacionamentos? A sua empresa tem câncer? A sua vida tem câncer? E sua família, tem câncer? Quanto tumores você tem? Quantos deles impedem o seu crescimento e o daqueles que convivem com você sabotando sua família, sua equipe de trabalho, sua relação com as pessoas...quantos? O que impede você de extraí-los antes que contaminem tudo irreversivelmente?
É preciso coragem para tomar decisões e agir, porque isso tem um preço e esse preço nunca é barato. Mas preço a gente paga por aquilo que tem valor, se não custa é porque não vale -  e sanar as nossas vidas vale muito. 

Se não curar o todo você não vence, só adia a derrota.

Segue o vídeo de hoje:



quarta-feira, 17 de outubro de 2012

No vale de Baca

"Ao passarem pelo vale de Baca, fazem dele um lugar de fontes; as chuvas de outono também o enchem de cisternas." 
Salmo 84:6


Quando eu estudava no ensino médio como bolsista em uma conceituada escola metodista em Porto Alegre, tinha um colega em minha turma que se chamava Fábio. Ele era solitário e triste. Andava cabisbaixo apesar do 1,90m de altura, era de origem muito humilde, negro, jogava no time de basquete do colégio e era bolsista como eu. Um dia, durante um treino, me aproximei dele e ficamos amigos. Ele me chamava de "Tia Josi"(parece que eu já nasci velha), eu tinha uns 14 anos e ele por volta dos 15. Na época de provas todos da minha turma eram meus melhores amigos, mas repugnavam minha amizade com o Fábio. Como eu podia conversar com um garoto, ainda por cima negro e pobre? Quando as provas acabavam eu voltava a ser  "bolsista" e por isso alvo de chacota.  Então ficavam só o Fábio e mais 3 ou 4 pessoas que se atreviam a se aproximar. Éramos "contagiosos". Colecionava as bolas de papel que voavam em minha direção durante as aulas. Naquela época nem se falava em bullying. Naquela época ofender alguém por causa da pele escura também não era crime...

O tempo passou, as leis mudaram, mas parece que as relações humanas ainda são regidas por preconceitos e medo. Impressiona como as pessoas se aproximam por razões erradas, e impressiona também o peso que se dá, ainda hoje, mais ao que cada um tem e aparenta, menos ao que cada um é.
A sociedade ainda se organiza em tribos especiais, e quase ninguém mais diz o que pensa, mas diz aquilo que convém à imagem que quer projetar de si. Enroscam-se em grilhões que eles mesmos criam até sufocar com as correntes e perderem-se de si mesmos. Eternos devedores de seus traumas e mentiras "justificáveis".
Chegou à um ponto em que muitos só mostram realmente quem são atrás de pseudônimos na internet. Existe o medo de se expor, de mostrar a cara, de exercer autenticidade, cultuando aparências em nome de interesses onde deveria haver essência. A vida seria mais simples e as relações mais "limpas"e felizes.

A gente se machuca ao andar. Fases difíceis da vida podem ser traumáticas- se a gente permitir. Sobrevivi à vales assustadores pelo caminho, não por mérito meu, mas da fé e de uma inesgotável crença na vida. Temos que atravessar os vales de Baca conservando o aprendizado, não o trauma.
Momentos difíceis são momentos de transformação e aprimoramento, não de derrota e mágoas.

Tive más e boas experiências em meus tempos de colégio, em ambientes de trabalho e até na família. Quem não teve? Isso se chama vida.
Mas ao contrário de agarrar-me às feridas para justificar meus medos e inseguranças, busquei entender melhor à mim mesma através desses acontecimentos. Não há como fugir de quem realmente somos, e não devemos deixar que experiências passadas cristalizem paradigmas que nos aprisionem. Por isso as novas experiências são chamadas de novas: porque são diferentes das passadas, nem nós somos os mesmos nem as novas pessoas são como eram antes.
Nunca mais soube do Fábio. Hoje com 4 diplomas,  leciono no Brasil e no exterior, dando aula para pessoas simples e também para elites e até líderes e monarcas de alguns países. Todas essas pessoas, muitas de culturas e níveis sociais tão distintos, possuem sonhos, ansiedades, medos e atravessaram vales de Baca. Como cada um que está lendo este texto. A felicidade de uma vida plena, com relacionamentos verdadeiros, é um direito comum à todos. Se alguém ou alguma coisa não lhe faz bem afaste, sem no entanto fazer disso um cadeado para conhecer outros momentos. Não justifique com seus "traumas" o medo de viver. 

Sejamos doces apesar de tudo, e não amargos por causa de tudo - do contrário chegará o dia em que não suportaremos o gosto de nossa própria saliva.
Seja livre e mais feliz agora.
Segue o vídeo: 


Abraço e bom final de semana.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Gigantes no abismo




"Senhor, o Teu mar é tão grande,

E o meu barco é tão pequeno "

Winfred Ernest Garrison

1874 - 1969



Passei por duas cirurgias na última Sexta-feira. Foi difícil sair pra votar no Domingo passado.

Nada a ver com o tumor no cérebro, foram problemas nos ovários e de vesícula. Ainda é ruim ficar sentada. E deitada, em pé, parada, andando...

Pode parecer para alguns que agora sou uma desocupada que usa a internet pra ter o que fazer, mas o objetivo na verdade é oferecer alguma coisa boa quando tudo em volta diz que estamos fracos e não temos nada à oferecer. Quero oferecer algo saudável enquanto eu puder, mesmo se a saúde quiser fugir de mim.

Recuperação chata, pareço uma peneira com tantos furos espalhados na barriga...e mais uma vez cantei "I will survive " na sala de cirurgia até a anestesia fazer efeito. Não sei por quê isso sempre acontece. Pelo menos não cantei "Para nooossa alegriaaaa" que seria bem mais catastrófico e correria o risco do médico e os auxiliares fugirem em pânico e do anestesista me dar uma overdose pra me fazer calar a boca. É uma frustração eu não saber cantar. Ainda.

Algumas pedras e nódulos mais leve, nadamos em mares revoltos com a tranquilidade de quem escorrega em um arco-iris.

Algumas situações são como ladrões: chegam de surpresa e querem nos roubar a vida, o tempo, a motivação pra fazer as coisas.
Às vezes esse ladrão traz uma gangue inteira que nos cerca de modo ameaçador em algum canto escuro. 
Pode ser doença, pode ser uma traição, uma decepção ou injustiça, pode ser uma perda, um acidente, um problema. Um furacão categoria 5.0 que vem sem aviso e acaba com o que estiver construído, engole o que pode e o que não pode ele destrói.
De repente estamos beirando abismos e lá embaixo o mar revolto pela tempestade é ameaçadoramente forte.
Mas também lindo.

Você já teve a sensação de estar tentando se agarrar com as mãos pra não cair no abismo, e então aparece alguém pra pisar em seus dedos?
Essas coisas acontecem porque é nesse exato momento que surge o gigante em nós. É quando soltamos as mãos e abrimos os braços diante do perigo, porque ali, na beira do abismo e com alguém pisando em nossos dedos se manifesta o gigante em cada um, e já não temos medo do abismo porque nos tornamos maiores que ele. É a melhor hora do filme.
Antes de se concretizar, a derrota precisa se tornar um estado de espírito, e isso só acontece se a gente permitir. 
Como transformar furacão em brisa? Como transpor uma montanha da qual não se consegue avistar o cume? Por quê essas coisas acontecem nas nossas vidas? Para que se possa viver a melhor parte do filme!

Se lhe pisarem os dedos, supere à si mesmo e se torne um gigante. As mesmas ondas assustadoras são as mais belas. Aprenda a surfar nelas como quem escorrega no arco-íris.

Segue o vídeo de hoje: 



E bom final de semana pra todos.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Urnas de vento


Ainda me pergunto por quê escrever sobre esse assunto hoje...às vezes parece que minha cabeça e minhas mãos não me pertencem.Segunda-feira talvez fosse melhor uma piadinha, coisa assim... Mas vamos lá, vamos arriscar.

Política deixou de ser ciência e passou a ser negócio.
Voto deixou de ser opinião e virou mercadoria.
Consciência virou estatística.

Em poucos dias estaremos encarando a dura realidade das nossas eleições: o paradoxo de um modelo democrático usado como armazém.
A consciência de cidadania foi guardada em uma moedeira, enquanto se vota em candidatos "menos piores", "com mais chance de ganhar"ou "que tem uma boa proposta para a minha classe", "que me prometeu..." ou o que tem a musiquinha mais irritante que gruda na mente como um post-it. Horizonte estreito, esse.
Há quem vote até no "mais bonito" - nessa hora só chorando mesmo. O ridículo do horário eleitoral reflete o ridículo da sociedade a qual pertencemos.

Votar passou a ser um jogo onde o eleitorado virou rebanho, em que a sociedade brasileira sempre perde e transforma a nação em pasto.
Anular, votar em branco, vender voto, votar defendendo interesses pessoais...isso não é protestar contra o sistema ou o status quo. Isso é atestar incompetência cidadã.
Se eu não voto não posso reclamar de absolutamente nada porque quem não tem voz não fala.
A única forma de votar certo é votar em alguém que se aproxime do que você imagina ser melhor (para o bem comum, não o seu apenas). Não se deixe enganar por forças de partidos, por pesquisa. Protestar é agir contra o estado atual das coisas. Voto nulo e branco são votos de silêncio que enchem as urnas de vento.

Faça sua escolha com base na pessoa, não no partido, nas estatísticas. O candidato ideal não existe mas existem planos de governo concretos e que podemos cobrar. A sociedade é formada por pessoas e deve ser governada por pessoas, pensamentos, ações e idéias consistentes. A corrente viciada de um sistema corrompido precisa ser quebrada. O despertador está tocando! Se parte da sociedade ganha, mudará o bolo mas permanecerão as mesmas moscas. Se a sociedade como um todo cresce todos ganham. Hora de fechar a fábrica de pobreza, dependência e comodismo. O eleitor precisa parar de ladrar feito um cão atrás de um portão velho e assumir o seu papel como responsável pelos acontecimentos ao invés de se deixar cegar por promessas de governo paternalistas com soluções à curto prazo que não resolvem os principais problemas das comunidades. Pessoas morreram para que hoje seja possível votar. Não podemos desvalorizar esse sacrifício. Reclamar do vento é cômodo. Assumir a responsabilidade pela posição das velas requer atitude, trabalho e coragem.
Boa semana. Seguem hoje dois vídeos curtos que acho excelentes:





quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Detalhes do tecido


As coisas não se resolvem sozinhas, elas apenas pegam no sono. Por um tempo.
Cirurgia à vista.
Sempre que se precisa fazer uma cirurgia é bom ter o parecer de mais de um médico.
No meu caso, dois à favor da cirurgia e um pela espera e observação.
Com o meu voto o placar ficou em 3X1 para a cirurgia.
Terça-feira, 02 de Outubro de 2012. Cirurgia para remover a vesícula e cistos nos ovários. 

Não gosto de pendências. Aprendi cedo que, quando se tem algo para resolver, melhor fazer logo.

Ninguém resolve por você, apenas adia o pagamento daquilo que é sua incumbência decidir e fazer.
Decidir e agir. Não é bom fugir dessa responsabilidade para com a nossa vida. Mesmo se você decidir não agir. 
De qualquer forma isso terá um custo. Decidir é mais fácil do que parece: Pare. Acalme. Pense objetivamente no quanto custará tomar a decisão e se isso traz paz ao coração e por quanto tempo. Sua decisão está em conflito com quem você é ou está alinhada com aquilo em que acredita? Você quer o quê da sua vida, afinal de contas? Qual a história que deseja escrever? Porque saiba que tudo aquilo que decide e faz deixa impressões entalhadas em você e acaba definindo quem você é. E se não decide ou não faz, sua vida será uma grande folha vazia, em branco. Não se transforme naquilo que não quer ser.

Assim como escolhemos a qualidade do material usado na construção da casa onde pretendemos morar devemos decidir nossas ações. O que é melhor: pagar barato agora e bancar a reforma depois, quando as paredes racharem e os encanamentos estourarem, ou apertar o orçamento da decoração e zelar mais pela estrutura?
O medo de errar só existe para aqueles que não sabem o próprio nome ou andam por um caminho que não é seu.
Abraço e boa Quarta-feira. Segue o vídeo:


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Em companhia das águias


Durante o tempo em que fiz radioterapia eu tinha consultas e avaliações médicas semanais.
Por duas vezes fui atendida por um médico auxiliar.
Na segunda vez em que ele me atendeu disse, sem me olhar no rosto: "- Olha, no máximo esse seu tumor vai estabilizar por um tempo. Talvez estabilize, talvez não, e dificilmente ele vai reduzir só com a radioterapia. Um dia, se isso acontecer, vai ser uma redução ínfima. "
Saí do consultório, o marido junto, olhei pra ele e disse: 
"Foi a última consulta que fiz com esse aí. Eu vou é comer um chocolate." 
Depois disso todas as consultas foram com o meu médico mesmo.

Nesses 117 dias desde que a radioterapia acabou tenho andado como dá e nem penso em me queixar disso.
Ressonâncias magnéticas periódicas de controle - Já fiz duas desde que voltei pra casa, e hoje recebi o email do médico com a análise do último exame.
Feitas as devidas considerações, o laudo dizia: " (...) o meningioma encontra-se estável sem progressão, parece que houve discreta redução."
Minhas mãos começaram a tremer e eu li novamente pra ter certeza que estava lendo certo. Redução? Já?
É uma discreta redução, é um pequeno progresso eu sei, mas pra mim é uma imensa vitória, é uma resposta, e eu comecei a chorar ali sentada, estava sozinha em casa.
Minha mente se encheu de frases, palavras, vozes, músicas...
Me curvei e agradeci muito à Deus por esse presente.

E tenho que agradecer muito também aos anjos que estiveram acompanhando de perto esse trecho duro do caminho e aqueles que não só acompanharam mas estiveram agindo junto, tornando possível chegar até aqui. O nome de cada um está bem guardado no meu coração. Não vou citar todos porque são muitos, teve muita gente trabalhando junto, fazendo acontecer num sentido bem prático. Eu nunca vou esquecer dessas pessoas que deram as mãos ao meu redor pra que fosse possível andar essa distância toda. Eu não teria conseguido sem vocês.

A estrada ainda é longa, eu sei. Os efeitos da radiação ainda estão presentes. Mas o amor de Deus nos eleva ao alto onde pertencemos, onde gritam as águias no topo da montanha. Esse video de hoje e cada palavra nele tem um valor especial pra mim. Que esse meu relato sirva para que cada um possa perceber que não importam as estatísticas nem o tamanho dos obstáculos: a fé e o amor são invencíveis. 
"Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé."( 2Tm 4:7 )
 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Tudo bem

Vieram perguntas depois de minha última mensagem.
Tive uma séria infecção, ruim mesmo, houve uma baixa imunológica significativa e não deu pra responder antes.
Tenho médicos especiais e cuidadores zelosos. Obrigada. Sortuda, eu.

Voltemos às perguntas. Fiquei em dúvida se respondia somente à quem perguntou ou se fazia isso em forma de mensagem. Depois de refletir bastante, resolvi correr o risco e me expor. Perguntas do tipo : Se eu acredito em vida após a morte, qual minha religião, o que significa ter fé, como faço quando há crise pra superar e outras coisas que giram em torno desses temas. São temas delicados para muitas pessoas e eu me preocupei em fazer isso de uma forma honesta, mas cuidadosa. Não quero ferir ninguém com minhas considerações. Se isso incomodar quem recebeu de forma ruim, por favor pare agora a leitura e ignore esse email. Não quero invadir sua praia.

Eu acredito que a morte seja uma forma de transformação, que comparo ao nascimento de uma borboleta. Nossa vida terrena é o nosso tempo lagarta, amadurecemos e nos tornamos casulo e, ao morrer, borboletas. Mas creio que antes de se preocuparem com a morte, as pessoas devem se ocupar em estar realmente vivas até que ela aconteça.
Há alguns casulos que secam antes que a borboleta se forme... Muita gente leva a vida como um fardo, cheio de problemas pra resolver e passam anos reclamando das mesmas coisas, culpando a vida e os outros por suas frustrações, conduzindo tudo como um jogo que precisam ganhar ou dependendo de acontecimentos e soluções externas para conseguirem estar felizes - o que nunca acontece e tudo então permanece nas metas da lista de fim de ano. Não conseguem estar bem, sempre falta alguma coisa.
E assim o casulo  seca antes do tempo. Morremos, mas nunca deixaremos de existir para aqueles que nos amam se eles forem suficientemente maduros para entender que mesmo aquilo que não está em seu campo de visão ainda existe. Para os bebês, o mundo tem apenas a largura daquilo que enxergam. 

Outro dia fui à um salão de beleza e estava lá uma senhora, cabo eleitoral de um certo candidato à prefeito. Era eu frente aos argumentos de todas as 12 mulheres presentes.  Foi uma experiência interessante, e curiosamente conduzimos os debates sem nos descabelarmos, para alívio da cabeleireira. 
O problema sobre emitir opinião sobre religião, política e religião é o seu denominador comum: os fanáticos. Sobre religião (eu discuto religião, futebol e política sem problema e acredito na boa convivência das diferenças) -  Tá, futebol eu não discuto muito porque não entendo o suficiente, sou bem fraca no assunto - . Sei que isso ainda vai me render  desafetos e indignações, é sempre assim (não o futebol, mas argumentar sobre religião e política).

Verdades duras demais viram prepotência e trazem a necessidade de provar que estamos certos para que os outros vejam como somos fortes, como temos razão. Já tive razão, hoje prefiro ser feliz ( já li isso em algum lugar... de Ferreira Gullar, se não me engano)
Religião deveria, em princípio, ser um caminho para nos "religar"com a essência espiritual da vida. Infelizmente virou política, negócio, justificativa de matança ao redor do mundo e ao longo da história das civilizações. 

Conheço muitas religiões, participei de várias e respeito todas. Não sigo nenhuma.

Leio a Bíblia com muita frequencia e quanto mais leio o Novo Testamento mais claro me parece que Jesus buscou sempre libertar a espiritualidade da religião.
Símbolos, rituais, regras, dogmas, doutrinas, misticismos, para mim são clausuras que impedem a visão nítida da fé em sua amplitude e se tornam peças sobre o tabuleiro de um jogo reduzido à dinheiro, poder, política e fuga do enfrentamento das carências emocionais e psicológicas. Isso para mim. Para muitos não é e respeito o que lhes é sagrado porque o amor não depende da concordância. Não tenho aqui o intuito de julgar a  religião de ninguém, menos ainda julgar alguém por sua religião - à isso chamo ignorância - entendo que tudo tem um papel na vida das pessoas e todos devem ter o direito de crer naquilo que lhes responde às perguntas e acalenta o coração. Não me atrevo à converter ninguém a nada (pessoas não convertem pessoas) e nenhuma pessoa comete a imprudência de tentar me converter à nada. Uso "conversão" aqui no sentido de mudança de rumo e atitude.
Expresso o que isso é pra mim, como disse, e sei que para muitas pessoas o quadro é diferente e conheço muitas pessoas que praticam suas crenças com muita verdade no coração. É isso que importa, verdade no coração, não a etiqueta da fé.
Para estes há crença, para os hipócritas há religião. Praticar uma religião não significa que você realmente crê no que proclama. Outros podem dizer que eu sou uma perdida se isso os deixar mais confortáveis. Sou, talvez, o que poderia chamar de cristã ultra-primitiva, uma religião que não existe. Portanto não sigo religião. Minha fé não tem nome.

Estou apenas me posicionando aqui com honestidade porque me propus à não ter medo de expressar o que penso de verdade, porque cheguei à um ponto em minha vida em que o julgamento das pessoas deixou de ter importância. Aliás, isso não deveria existir. Já quis aceitação, mas já tenho trabalho suficiente aceitando à mim mesma. Eu não poderia me esquivar de responder porque seria covarde se o fizesse, me mantendo segura em meus discursos unilaterais do lado de cá da internet sem me expor ao desconforto. Já atirei e recebi pedras. É um erro idiota.

Ainda respondendo, entendo que ter fé é como proteger uma chama do vento - enquanto a mantivermos acesa ela nos proporcionará luz. Posso comparar também à energia elétrica, a fé é a força que mantém nossa alma funcionando em sincronia com Deus, é o que torna possível enxergar além do tempo nublado, do mar tumultuado, além do abismo que nos separa das coisas, da fé- licidade.  

Quando me perguntaram sobre as crises, não ficou claro se estavam se referindo às crises decorrentes do meu tumor cerebral e do tratamento ou de crises da vida em geral.
Independentemente da natureza das crises, para mim elas nunca são negativas. Podem ser duras, pesadas, mas nunca negativas. Não vejo punição alguma na crise.
Ao contrário, se passo muito tempo sem crise, fico inquieta. Acho que isso é peculiar em artistas, as crises nos alimentam, nos inspiram e se soubermos suportar o vento, aumenta a resistência. A calmaria acomoda, dá sono, e sono demais vira preguiça. A fé ajuda a suportar o vento e ouvir suas mensagens. O amor mantém a gente aquecido quando o vento esfria. Quando a coisa fica pesada, peço ajuda. Deus nunca deixou de estar lá, até quando eu não peço. Dá pra sentir o amor perto, a segurança.Um amor que cura e fortalece.

Pra enfrentar a crise é mais ou menos isso: conheça seus limites para poder trancendê-los, saiba esperar quando necessário, conheça o seu desfio e creia que só há um motivo para aquele momento existir: o fato de que você pode superá-lo.

Assim é que aqui expus meu coração e pensamento. Minhas respostas me servem por enquanto e talvez ajudem outros a obter as suas. Outros não precisam de respostas, talvez nem de perguntas. Pois é. Boa Semana pra todo mundo. Segue o vídeo :


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O grande e o melhor


Essa semana deixaram em minha porta um pacote. 
Estava escrito do lado de fora: "A fé é a menor palavra e a mais poderosa". Dentro havia um livro, e como remetente estava apenas um número. 
Perguntei ao porteiro quem havia deixado e ele então me explicou que havia sido uma vizinha.
Aquilo me surpreendeu porque tratava-se de alguém com quem tenho pouquíssimo contato, não mais que a troca de meia dúzia de palavras em um elevador ou na garagem.
Resolvi ligar para agradecer e minha surpresa foi ainda maior com a calorosa acolhida de alguém que pouco conheço - e senti vergonha por isso.
Moramos tão perto e estamos tão distantes.
Ela me recordou de coisas que eu havia lhe dito anos atrás e que eu já nem lembrava mais.
De alguma forma ela ficou sabendo sobre o que eu estou vivendo - não perguntei - e quis demonstrar aquele cuidado. 
Foi algo pra pensar.

Há algum tempo eu desisti de ter melhores amigos. Talvez por não querer mais ser mero objeto de decoração na vida deles, um velho quadro na parede destoando da decoração, como me tornei. Fiquei ainda mais reclusa neste último ano, estreitando bastante a passagem na porta da proximidade.

Já tive melhores amigos. Hoje prefiro ter grandes amigos e ser uma grande amiga. A diferença é que não existe a imposição, a cobrança de ter que ser o melhor, mas apenas grande.
Quando se deposita em alguém o título de melhor amigo as decepções terão um peso devastador. Os grandes amigos podem falhar sem causar tanto dano quanto os melhores amigos. Sim, nesse caso prefiro o grande ao melhor.

Somos mutantes de nós mesmos. Nossos sonhos vão se moldando com o tempo, com a idade e as experiências. Alguns morrem, outros adormecem,outros desabrocham, como os relacionamentos. As pessoas que encontramos na vida podem permanecer por um tempo, participar com grande intensidade, mas os caminhos se distanciam até perder de vista. Outras chegam despretensiosamente e se tornam um precioso tesouro. Outros se perdem no fundo de uma gaveta e de repente encontramos de novo. Precisamos nos reconhecer nos outros de vez em quando para não ficarmos sem bússola.  
Tentamos ser felizes na correnteza. E precisamos conseguir, ou nos afogaremos e seremos apenas fragmentos de corpos boiando até finalmente encontrar o mar, sem nos darmos conta disso até ser tarde demais. 

Encontrei uma conhecida na padaria outro dia. Ela elogiou meu corte de cabelo e eu disse que havia cortado curto devido aos efeitos da radioterapia. Expliquei o problema sem entrar em muitos detalhes. "- Como assim...Não pode!". Foi tudo o que ela disse, marejando os olhos. Dei-lhe um abraço. Ela tratou de se despedir e cada uma seguiu seu rumo. Ela foi andando à passos lentos, parecendo ter esquecido o que precisava comprar.
Passei no caixa, entrei no carro. Chorei.
Por que eu contei? Eu poderia não ter dito nada. Aquela resposta tão curta acabou comigo naquele momento. Ela só queria um cumprimento social cordial, e eu lhe dei um soco gratuitamente. Talvez ela evite cumprimentar conhecidos depois daquilo.

Qual o nosso real valor no mercado da vida? O quê realmente resta de importante quando nada mais resta? Talvez a resposta apareça quando substituirmos o "O quê" da pergunta por "Quem".

Meus amigos da família. Meus grandes amigos, a quem eu amo muito. Dos que choram no meu colo em plena Segunda-feira aos que deixam bolos deliciosos para o meu filho em minha ausência. Dos que me honram com sua confiança e que se revelam imensos quando eu menos espero. Dos que preservo desde a infância, da universidade, da minha terra natal, aos que me querem junto nos almoços de Sábado. Os que escrevem seus nomes em cartões imensos e carinhosos quando a "professora" falta.Os que me salvam. Os que me curam. Os daqui e de tantos cantos do mundo. Os novos amigos que conheci desde sempre e que de recente só há mesmo a data em que nos encontramos. Os que, embora geograficamente longe estão presentes em todos os momentos "dentro do coração", como diz o Milton Nascimento.

Sou feliz porque amo muita gente.


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Colapso, formigas e dissonâncias



Minha cabeça cheia de formigas caminhando pra lá e pra cá...

Alguns dias são ruins, fisicamente falando.
Terminei a radioterapia há três meses.
Há que administrar esse revés do corpo que fica a me lembrar que existe sempre que eu insisto em voar. 
Faz parte da minha lição de casa aprender a ficar estacionada por mais tempo.
Entendo que essa experiência me tornou uma pessoa melhor do que eu era, e se esse tumor no meu cérebro tiver esse propósito, vamos conviver bem juntos até que a morte nos separe(ou nos una ainda mais). Sou grata pelo que estou vivendo.

Deitada, meio sonolenta, o primeiro dia me voltou  à mente:
Eu sentei desconfiada na frente do médico que tinha pedido mais exames do que eu esperava ter que fazer naquele dia.
Ele, visivelmente desconfortável, olhava para meus exames em sequência, depois de trás para frente.
Fez uma pausa olhando fixamente um dos laudos médicos, me olhou e respirou fundo cruzando os braços sobre a mesa com os dedos tensos: "- Você tem um tumor em uma área muito delicada do cérebro, e ele é na verdade bem maior do que mostrava a tomografia."

Percebi meu marido encostando-se para trás na cadeira bem devagar. A primeira coisa que pensei foi "Que bom que sou eu e não eles". (referindo-me ao meu filho e meu marido). Sorri para o médico e depois de um sonoro "OK" perguntei qual seria o próximo passo.

Naquele dia(e nos seguintes) eu tinha duas formas de lidar com a situação: olhar para o problema de perto ou à distância. O olhar próximo possibilita ver bem os detalhes, perceber intimamente, absorver. O olhar distante é mais vago, o contorno é menos definido, possibilita a fuga.
Optei por olhar de perto e mais: tocá-lo, ouvi-lo, torná-lo palatável.

Aprendi na vida que a forma mais eficaz de enfrentar um desafio é estabelecer uma relação íntima com ele. Conhecê-lo usando todos os sentidos. 

Ouvi uma verdade incômoda e precisava aceitá-la mesmo que isso custasse mudar radicalmente meu modo de vida dali em diante.
É isso que a verdade faz.

Precisava entender a nova realidade e lidar com ela de uma forma construtiva ou me tornaria uma vítima para o resto dos meus dias. Preciso agir diante dessa realidade de um modo coerente com aquilo em que acredito sem deixar que sombras emocionais e psicológicas dominem a situação.

Em seu livro "Colapso", Jared Diamond aborda um denominador comum entre os impérios falidos: a dissonância cognitiva
O conflito entre pensamento e ação. O não querer olhar de perto o problema, não querer ver o que está destoando, ignorar a realidade tentando encontrar justificativas de reforço para a incoerência adaptando o pensamento à circunstância.
"(...) O homem não age em função de seus pensamentos, mas pensa em função dos atos que as circunstâncias lhe impuseram. A coerência não é a não contradição das idéias ou dos saberes, mas a possibilidade deixada ao homem de achar, custe o que custar, garantias ideológicas aos atos aos quais a racionalidade nos escapa.

Muitas vezes somos reféns dessa incoerência entre o pensar e o agir. Reféns do olhar distante. Quantas vezes pensamos de uma forma mas somos impelidos a agir de forma oposta?  Quantas vezes nos deparamos com o "não enfrentar a situação", ou "fazer de conta que o problema não existe"? 

Idalberto Chiavenato, autor de Gestão de Pessoas, diz que "Quando uma pessoa age de maneira contrária ao que pensa, ocorre um estado de dissonância cognitiva. Surge assim um estado de tensão, ou angústia, então a pessoa reconstrói uma coerência cognitiva, dando um novo significado as crenças anteriores, ou ela muda seus comportamentos para adaptar-se a realidade externa." 

Estamos sempre tentando tornar a realidade mais confortável.

O modo como a gente percebe, interpreta e reage é influenciado pelas tensões que sofremos, pela noção de conveniência, pela acomodação ou medo.
Resta-nos escolher qual será nosso algoz e se vamos sucumbir à ele. Uma convergência de fatos e eventos definem nosso comportamento mas essa definição deve contemplar também nossos valores. 

Por outro lado, é certo que há maneiras de dizer aquilo que realmente pensamos e precisamos, de agir de forma alinhada com os nossos valores, desde que tenhamos a sabedoria de fazê-lo de modo adequado. "Quando mentir for preciso/poder falar a verdade" como diz a música de Maria Gadú. Ainda que quem nos ouça não queira essa verdade. Às vezes os cegos não querem ouvir ...

Custa caro, sim. Já paguei a juros altos o preço por agir conforme o que acredito e dizer o que penso. Não me arrependo, entendo isso como um modo honesto de viver minha humanidade e isso ajudou a firmar minha identidade. A gente precisa saber quem é e à quê veio. Egos ofendidos naufragam, a integridade sobrevive.


Ainda acredito que seja uma coisa boa ter por perto pessoas que saibam dizer o que realmente pensam de forma coerente e consistente. Que queiram sentir com honestidade. Isso ajuda a crescer e colabora com o nosso discernimento. O mundo seria melhor sem tantas dissonâncias. Falemos, de verdade, com as pessoas e procuremos realmente ouvir as pessoas. Digamos o que precisa ser dito também, e principalmente, a nós mesmos. É um caminho sábio. Forçar concordâncias é um caminho certo para o fracasso que virá, cedo ou tarde.

Viver em um baile de máscaras faz com que se perca a capacidade de diferenciar o verdadeiro e o falso. Com o tempo os mascarados já não conseguem dizer a verdade nem para si mesmos, perdem seus próprios referenciais.


Esse vídeo de hoje não poderia faltar. Adoro essa música desde a primeira vez que ouvi, em 2009, quando ainda não estava familiarizada com carecas e hospitais...
Que ela possa falar a verdade pra você como falou pra mim em momentos importantes. É um hino de viver (de um viver urgente, de amor imprescindível e de coragem fundamental). Que ela possa curar a vida de quem precisa e de quem acha que não precisa também.