terça-feira, 28 de agosto de 2012

O Segredo do Negócio


Hoje vi uma criança muito fofa brincando. Risada de criança é contagiosa.
Então ela caiu. Começou um berreiro daqueles até ser acudida e acalmada pela mãe.
A criança, quando se machuca, chora até ser pega no colo por um adulto em quem confie e que a console. 
Adulto quando contrariado não chora (pelo menos não sempre), mas reclama. E além de reclamar aponta as culpas, se revolta.

A gente vive num mundo injusto, o amor é escasso e importa menos do que dinheiro, poder e status. O discurso pode até ser diferente, mas a realidade é essa e tem sido assim ao longo da história, tudo sempre é uma questão de contabilizar custos e benefícios. Mas existem custos e benefícios que não podem ser contabilizados.
Há quem disfarce isso tentando parecer não se importar com status, atenção e  poder, mas é fato que se alguma roda move o mundo até hoje é esta. Essas coisas alimentam a vaidade e essa vaidade nada mais é do que carência. Mas ser o centro das atenções, ser a bola da vez não significa ser amado.
E aí, na raiz de todas essas distorções está a mesma causa: faltou amor. A falta do amor na vida desequilibra tudo e tem consequencias trágicas. Sem amor não há cuidado e então desanda todo o resto. É um efeito dominó: Gente bem amada não é insegura, não tem baixa auto-estima, não precisa bancar ser o que não é nem descontar nos outros sua frustração com a vida. Gente bem amada não usa disfarces pra se esconder. Quem não é amado não sabe dar amor , assim como quem não é receptivo ao amor não consegue vivê-lo de fato.

Por isso que a criança pára de chorar quando um adulto a pega carinhosamente no colo. É o conforto do amor, do amparo, do consolo.
E logo a criança está sorrindo outra vez, como se a queda não fosse nada se comparada ao carinho recebido em seguida, o conforto do colo. Ela aprende a confiar que após a queda a brincadeira pode continuar se ela trocar o choro...pelo sorriso. Esse é o segredo do negócio.

Abraço, muito amor pra todos.

Segue o vídeo.




segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Pra sobreviver

Pra sobreviver é preciso ter espírito de guerreiro, coração de menino, mente de aprendiz, estômago de aço e fígado...bom o fígado tem que ter disposição pra trabalhar muito.
Sobreviventes mergulham de corpo inteiro e voltam à tona da água porque a alma sobreviveu ao medo. 
Temos história, você e eu, a partir do momento em que nos encontramos pessoalmente, pela internet, não importa a forma.
Estamos aqui, na luta, pra sobreviver. A fé, a força e a coragem andam juntas. Viva e ame: todo o resto é pequeno.
E sobreviver é responsabilidade nossa.
Aos da quimio e da radioterapia, sobrevivam às dores e cansaço.
Aos que sofrem opressões e humilhações, sobrevivam à auto-piedade e à revolta.
Aos soberbos e egoístas, sobrevivam a si mesmos.
Aos hipócritas, sobrevivam ao espelho.
Aos fortes, esses só sobrevivem para ajudar outros a fazer o mesmo.
Aos que perderam a fé e a esperança, sobrevivam até amanhã, e ao dia depois e depois...

Segue o vídeo desta Segunda-feira.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Você estará lá?



Tem dias em que o dia acaba muito cedo.
Não adianta querer mandar no sol. Mas dá pra guardar uma lanterna no bolso.

Hoje a minha conversa não é com meus amigos, mas com a minha fonte de força (que certamente não é o cabelo).
Só que eu resolvi compartilhar o vídeo porque de alguma forma, em algum momento, alguém pode precisar ter uma conversa dessas também (caso haja outros humanos como eu entre meus leitores).
Quando cercados pela incerteza, pela fadiga, pela dor, tem sempre um jeito de continuar. A morte só existe pra quem desacredita na vida. Nenhum mal é grande o bastante para impedir a luz para quem carrega uma lanterna no bolso. É abrir os braços e se deixar erguer.

Bom final de semana.


segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Em um Dia


O que é extraordinário na vida? Quantos universos cabem em um dia? 
Desafio vocês ao confronto com a vida em estado bruto, por vezes chocante nesse filme produzido por Ridley Scott. 24 de Julho de 2010: Uma odisséia humana, insana, comovente,crua.
Mas atenção: Se você embarcar nessa viagem, esteja preparado para se despedir de si mesmo. Ao final de 1h30min você não poderá voltar a ser o que é agora.
Assista com legendas em português em http://www.youtube.com/user/lifeinaday .
Aos que ousarem, desejo boa viagem. Encontro vocês na próxima estação.

Abraço.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Apocalipse-SE!

Hoje eu tive que chorar. Viver com urgência, mas sem pressa, não é uma lição fácil. A cabeça quer, mas o corpo não. Mas como a cabeça quer muito, ela não abaixa. Ela acalma e espera pacientemente até que o corpo abra uma brecha e acabe superado pela cabeça. E o dia acontece em movimentos de jogo de xadrez.

Todas as manhãs abrir os olhos para o dia que pode ser o último. Todo o dia é uma revelação, um começo e um fim. Meu apocalipse particular.

Pode-se dizer que as teorias sobre a origem e o fim do mundo, o apocalipse, são barulhentas: Começam num "Big-bang!" e viram um grande "Bum!" e fim. Acabou. Não deixa de ser irônico...


O último dia de minha vida é sempre extraordinário: Tomo banho, como, resolvo coisas, cuido da casa, amo pessoas, faço orações,admiro o que lindo me parece. Faço boas leituras quando posso. Agradeço.

Acho que as pessoas tendem à ter medo de viver seu último dia, por isso tanto estardalhaço em torno das teorias apocalípticas. Viver o último dia pode assustar quem não vive isso rotineiramente. Será que é tão difícil se dar conta de que é no mínimo ilógico jogar fora toda a elaboração do mundo? Seria um desperdício de energia imenso criar a natureza para simplesmente acabar com tudo depois, e Deus não desperdiça.

Talvez a resposta esteja na estatística. Cerca de 95% das pessoas do mundo inteiro acreditam na existência de Deus, mas eu diria que talvez só uns 5% desses confiam em Deus. Por isso o medo do fim do mundo. Não temem exatamente o fim do mundo, mas temem viver seu último dia. O desespero de não saber o que fazer com as últimas 24 horas daquilo que conhecem. 

Ora, se Deus quisesse matar a humanidade não precisaria de anúncio. Faria e pronto, sem barulho, sem alarde, porque só quem sente falta de holofotes é o homem. Não ficaria anunciando "- Olha, eu vou acabar com você e você só pode se descabelar e correr ao supermercado". 
Quem já teve uma experiência próxima com a morte sabe o quanto isso é silencioso.

Fico imaginando o quanto as pessoas realmente querem acreditar nisso, viver esse filme, achando que serão especiais o bastante para permanecer enquanto os humanos inferiores morrem. Vão construir abrigos, comprar e estocar alimentos, pilhas, velas.
Porque é mais fácil tomar essas providências do que as que são REALMENTE necessárias: a principal delas é acordar. 

Acordar para a vida que se reinventa todos os dias ao nosso redor e a necessidade de cada um se reinventar também juntando-se ao movimento da vida e do tempo. A coragem de rasgar-se e ressurgir com uma nova essência, consciente de que nenhum homem é absoluto, completo. Pertencer.

A coragem de criar novos conceitos em vez de se deixar escravizar por eles. Sim, porque os conceitos devem ser meras ferramentas de trabalho, não um fim em si. Devem ser pedras de apoio para os pés, não muros de prisão.

Conceitos engessados viram verdades perigosas.

Viver em função de conceitos é uma forma míope de enxergar o mundo, é querer engarrafar tudo o que nos cerca colocando em engradados que serão cobertos com a poeira do tempo, da estagnação. A vida não cabe em catálogos.

Viver o último dia é acordar para o fato de que amar e realizar boas obras é uma atitude no mínimo pobre e hipócrita se o motivador for o ego e não o amor gratuito.
As pessoas que se colocam como superiores umas as outras, seja espiritual, intelectual ou psicologicamente já sucumbiram à essa armadilha. Porque o olhar orgulhoso não permite tirar o véu que oculta a verdade sobre si mesmo.

O senso de superioridade mata a riqueza do diverso. A genialidade da orquestra está no fato de não constituir-se apenas de violinos, mas também de trompetes, percussão, cellos e flautas, piano. Tudo harmonizado pelos movimentos do maestro que entende que cada instrumento é importante para um contexto mais amplo. É a supremacia do contexto sobre o conceito. As coisas mais valiosas da vida não cabem em significações.

Sim, é tempo de apocalipse. Apocalipse que vem revelar o que é oculto, obscuro. Expor e purgar, sanar, exorcizar, curar e despertar novamente. Apocalipse cujo conceito pode assustar mas que no devido contexto pode trazer oportunidade de descoberta.  Porque sem abrir os olhos não é possível ver o que é revelado diante e dentro de nós. Ainda que diante da morte do que fomos, aprisionados no conceito do que achamos que era vida.

A vida vai mudar. O mundo vai mudar. Isso acontece todos os dias.

Portanto...apocalipse-SE! 

Segue aí o vídeo de hoje.
Um grande abraço desejando um maravilhoso final de semana, de olhos, coração e mente bem abertos para todos nós: Olhos e coração de criança e a mente de um adulto aprendiz.




sábado, 4 de agosto de 2012

Desejo

OOOOOOba!
Amanheceu de novo!
Um belo presente, hoje.
Coisa boa tomar café, um bom banho, bagunçar o cabelo que ficou e botar meu melhor perfume.

O vídeo de hoje vale inclusive pra Segunda-feira pela manhã, letra linda pra animar a semana. Se não puder dançar pelo menos batuque na mesa:



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De braços bem abertos, cabe todo mundo num abraço coletivo.
Semana maravilhosa pra todos nós.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Baixas de guerra

Era uma vez uma pessoa que tinha um tumor na cabeça.
Um dia, ela recebeu uma mensagem de uma amiga do hospital onde havia se tratado informando que uma companheira de radioterapia havia falecido recentemente.

A mensagem dizia: "- Não quero que você fique abalada, resolvi avisar porque vocês faziam o tratamento na mesma sala, se conheciam e achei que você devia saber do acontecido. Ela descansou." 
A pessoa ficou abalada, mas precisava saber mesmo, por isso agradeceu pela mensagem. 

Era bonita e estava forte na última vez em que haviam se visto, É fato que uma implicava com a peruca que a outra usava, mas isso as fazia rir um pouco. Ela ria muito pouco...
Ao contrário do que alguns familiares disseram, ela não havia desistido. Nessa luta, uma vez que começamos, não há como desistir, desertar, porque a luta vai atrás da gente. Apenas o limiar do cansaço de cada um é diferente. ela foi para o descanso das borboletas, em algum jardim inimaginável, com flores surrealistas e onde a dor não vem com o vento. De alguma forma isso faz sentido, embora eu ainda o desconheça.
Ela havia tentado  "de tudo" em busca de uma cura. É...final feliz na cabeça da gente é cura. Na lógica da vida é Lou-cura.
Não pensem que ela foi vencida pela doença, porque a doença nunca vence a vida. A vida apenas continua se desenrolando em uma outra sala de cinema, vizinha à nossa e para a qual ainda não temos bilhete.

Dedico esse blog à todos os que recebem meus emails e suas vidas tão raras. E para nós, que continuamos aqui eu recomendo...muita paciência.
Segue o vídeo:




Abraço carinhoso aos daqui e aos de lá.


O2



Em 30 de Julho de 2012:

Uma crise que começou na Quarta-feira e pronto: de volta ao hospital, para a máquina de oxigênio. Remédios.
Nada bom mesmo. Levantei quando o juiz contou 8. Viver pode ser simples, mas ninguém disse que seria fácil...
Não dá pra descrever com palavras o que vai no coração nem na cabeça. Palavras também não podem descrever a dor (de cabeça). No final, estou em casa, mais forte do que antes. Essa é a idéia...
E na falta de palavras eu encontrei um instrumento pra "falar"por mim e que descreve melhor o que tenho vivido do que palavras. 

Mando o link pensando em quantos vão entender e quantos vão achar que eu agora enlouqueci de vez (talvez estes últimos estejam realmente certos). Não importa. Vale por aqueles que entenderem o que vão ouvir. Me conectei com essa execução do primeiro ao último acorde. A arte tem essa propriedade, essa "magia"de conectar almas. Obrigada, Lucia Micarelli (é a artista). Recomendo ver em tela cheia e com fones.
Só sei de uma coisa: Vai ficar tudo bem porque eu ainda estou do lado divertido da ilha.
Boa semana pra todos. 


"Deixe o Sol bater no meu rosto,
Estrelas preencherem meus sonhos
Sou um viajante de ambos tempo e espaço,
Para estar onde eu estive
(...)
Oh, Pai dos quatro ventos, encha minhas velas
Através do mar dos anos
Sem nenhuma provisão exceto um rosto descoberto
Ao longo dos dilemas do medo."
                                R. Plant



http://www.youtube.com/watch?v=haVWq8Wptnw

Zumbis


Em 24 de Julho:

Acho que tem algum filme de terror com esse nome, deve ter.
Nos últimos dias tive uma recaída. As dores voltaram e a dormência no lado direito da cabeça me fazem lembrar os piores dias dos quais pensei que estivesse livre.
Me derruba sempre que acontece, como se minha cabeça estivesse sendo prensada entre chapas de ferro com um pino atravessando pelo meio e fosse estourar, uma espécie de máquina de tortura medieval. É um alarme que soa lembrando que tem um adversário dentro da minha cabeça. Mas luta é assim mesmo, a gente vai à lona, levanta, cai outra vez, acerta uns golpes, leva outros até o último "round". É preciso levantar antes que o juiz conte até dez. 

Antes de ir para São Paulo para o tratamento, quando ainda estava em casa sob efeito de anti-convulsivos, numa tarde dessas em que a gente passa pelos canais de TV sem saber o que quer assistir, parei num filme que valeu muito à pena, não pelo talento dramático do protagonista (ele realmente não tem), mas pelo que me rendeu em inspiração. No filme, o lutador sabe que tem limitações físicas que podem impedí-lo de ganhar o título, mas ele luta por outro motivo: Para se sentir vivo.
Tenho também limitações que impedem a cura (o título), a remoção dessa "pedra" em meu cérebro. Mas eu luto não apenas pela cura, luto porque valorizo a vida com tudo o que ela tem. Me motivo pela luta.
Sim...há momentos em que a luta em si é o processo e o motivo ao mesmo tempo. Estar nela já é uma conquista e isso não é consolo, é saber o quanto você vale. Tem gente que passa a vida inteira sem saber seu tamanho por não desafiar nada...como um zumbi perambulando sem saber que na verdade está morto, é um corpo inerte movido apenas pela fome em uma rotina que se repete interminavelmente. Zumbis não realizam, não esperam mais nada da "vida"a não ser saciar sua necessidade imediata.

Como todo mundo que está lendo esse e-mail, eu levei e continuo levando uns socos da vida. Ótimo, porque sem cair a gente não aprende a levantar , nem sabe se consegue.
E quando você apanha e cai, o mundo e a vida não esperam você se recompor. Então melhor levantar logo, antes que o juiz conte até dez, em vez de procurar culpados pelo tombo que é seu, ficando aí, se achando incompreendido, injustiçado, vítima...Olhe em volta e faça o que tiver de ser feito, seque o sangue vá em frente. Se não houver desafio de superação você é um morto-vivo, um zumbi trôpego e patético que tem apenas a ilusão de estar vivo, mas na verdade é um inerte. "No pain, no gain" (Sem dor não há ganho) diz o ditado em inglês.

Lutadores, guerreiros, campeões não treinam comendo rosquinha em banco de praça olhando a vida passar. 

Eu não sou forte, a minha fé que é. Eu choro, minha fé sorri. Fiquei, sim, chateada em reviver sintomas que pensei que tivessem ficado pra trás. Tive sim, vontade de jogar a toalha e gritar - Cheeeeeega! - afinal a dor cansa. Cair cansa. Mas eu não vou ficar caída lá, cansada de tudo esperando o juiz contar até dez. Entregar a luta só se for por nocaute, e ainda faltam alguns rounds - regados a remédio pra dor de cabeça. Mas eu levanto antes do dez. 

E justamente nesses dias ruins, acabei vendo o filme de novo...caramba! Aí precisei escrever pra compartilhar isso e, claro, mandar os links de dois trechos especiais do filme.
Foi como ouvir Deus falando comigo, é...um "puxão de orelha de Deus", um gole de energético no intervalo da luta. Eu acho que vai dizer alguma coisa pra vocês também, até pra quem já viu.

Abraço,

Jo






Guiando

Em 11 de Julho de 2012:


Guiando de novo! Não, não virei guru. Esta semana estou voltando a guiar meu carro. Saudade da liberdade que traz poder dirigir, ainda que no trânsito ruim (pra dizer o mínimo) de Fortaleza. Mas independência é algo muito bom. Embora eu tenha tido ótimos motoristas para me levar de uma consulta à outra, e sou muitíssimo grata à eles. Mas ir e vir sem depender de outras pessoas, ouvindo minhas músicas, ah!!!não tem preço! Pro resto a gente usa aquele cartão de crédito...

E voltando ao negócio do guru (as visitas tem trazido uns insights sísmicos!), outro dia uma pessoa se referiu a mim como  "Minha querida guru". Esse negócio de seguir e guiar é mesmo muito chato.

Em todas as culturas, da mais primitiva à mais complexa, existem os gurus. Da tribo ao mundo corporativo, lá estão eles.
E, é claro, seus seguidores. E as pessoas se tornam seguidoras pelos motivos mais diversos: porque está perdido mesmo, porque quer fazer parte da turma, por conveniência, porque tem lacunas que nem Freud poderia explicar. "Seguir" o "guru" em qualquer coisa é perigoso. Muita gente faz muita bobagem por "seguir" o outro (hummm, ui! Terreno arenoso...). "Seguidores" não enxergam a paisagem ou o que vem no caminho pela frente. Se o da frente cai, embola todo mundo junto.
Aí você vai falar em liderança, em mestres. Mas isso nada tem a ver com guru...
"Seguir" é para os cegos, "orientar-se" é para os equipados. Se você tem uma bússola, está equipado e vai "orientar-se" por ela, mas o modo como vai andar em determinada direção é escolha própria. E, como eu já disse antes no site "A pedra e a borboleta", um peregrino pode andar pelo mesmo caminho que outro, mas seus pés não vão pisar exatamente na mesma pegada que o outro deixou.
O mestre alimenta o processo de crescimento daquele à quem orienta e o outro vai pensar no assunto, elaborar, selecionar e concluir por si. O 'guru" diz: "- Isso é assim", e o outro diz: "- OOOOOHHHHH!" admirado porque não entendeu nada. E ainda sai repetindo por aí, pra piorar o cenário triste. Tem guru em tudo quanto é área de conhecimento (se é que dá pra chamar de conhecimento). E muita gente pra "segui-lo".
Na Bíblia Jesus fala sobre isso ( Mt 15:14 e Lc 6:39) pra citar apenas duas passagens.Ele não queria seguidores, mas sim discípulos. O guru se esconde no título de profundo conhecedor, mas o profundo conhecimento requer prática, exercício, não apenas teoria. Siga uma orientação, nunca uma pessoa.

Quem se orienta por um caminho pode ver por onde está passando, mas o seguidor usa antolhos. A "aura"de "guru" encobre farsas. O guru não costuma aplicar aquilo que prega em sua própria vida. Normalmente ele encobre sua frustração como indivíduo. Seus exemplos e ilustrações são sempre fictícios, não tem exemplos próprios e reais porque não vivencia o que professa. Exemplo prático? Ok...Gandhi. O ícone da não-violência tinha seu séquito particular de "cuidadoras", meninas entre 14 e 17 anos de idade que inclusive o "acompanhavam" à noite. Como se pedofilia não fosse uma forma de violência. Posso citar outros, como James Ray, preso no ano passado, ou Rajneesh - o Osho - que pregava a libertação pessoal através de suas 'cerimônias tântricas' - leia-se orgias sexuais - e foi deportado dos Estados Unidos tendo que abdicar de sua coleção de Rolls Royce e sua rede de casas de massagem, morrendo na Índia. E a lista vai...

Ame, dedique-se, admire, oriente-se, mas não siga. Cada pessoa possui seus próprios olhos e sua própria mente para usar, não é enfeite da parte superior do corpo (eu que o diga, em meu atual estado de saúde...). Não pise em pegadas de outros. Seu caminho é único. Fuja dos gurus. Guru é alguém esperto que faz mau uso do ditado "Em terra de cego quem tem um olho é rei"(imagine quem tem os dois?). Mas o resto eu deixo pro vídeo dizer. E recomendo que façam exame de vista periodicamente. Fiz o meu na semana passada...e só pretendo "guiar" mesmo é o meu carro.

Abraço e boa semana.

Metade

Em 5 de Julho de 2012:


Poesia!! : 



http://www.youtube.com/watch?v=FNfpH7epGOs&feature=related

A Salvo

Em 1 de Julho de 2012:


Vidas da coisa: Meu avô paterno faleceu jovem, vítima de um AVC fulminante. Não cheguei a conhecê-lo. Artista plástico, desenhista, dele herdei o gosto pela arte, alguns livros antigos de arte em espanhol e...um tumor cerebral de origem genética, conforme constatado recentemente pelos médicos. A história da gente é intrigante, como uma caixa de bugingangas  com surpresas ocultas.

Acabo de fazer a primeira ressonância de avaliação após a radioterapia, e lá estava a pedra em forma de borboleta pendendo para o lado direito bem dentro da minha cabeça. O primeiro pensamento foi: "-Dei um tiro de bazuca na pedra, acabei com tudo em volta e a pedra está lá, como se nada tivesse acontecido. Nem um arranhão nele, enquanto eu..."

Está dentro do esperado, já que ouvi em alto e bom tom de todos os médicos que não há cura para meu caso, apenas uma tentativa de controle para evitar ou retardar o agravamento do quadro. Não há certezas. O que tenho vai ter que me bastar daqui pra frente. Vou estar a salvo.

Em algum momento essa coisa pode me matar, dentro de dias, meses, anos, não sei. Não há como saber. Não é importante. Vou estar a salvo.
Importante é que quando isso acontecer eu continue. Essa será minha vitória: continuar. Essa é a vitória de cada um nesta vida: continuar. A salvo.
Alguma coisa pode te atingir também, a qualquer momento, mas você precisará continuar, e permanecer a salvo.

Sem lamúrias, talvez algumas breves lágrimas, mas respirando fundo e dando mais um passo, e outro depois desse e assim por diante. Até o dia em que deixaremos de ser o indivíduo e passaremos a ser legado, dos nossos fragmentos guardados nas vidas daqueles que ficam. A salvo. Isso é importante. Que a nossa passagem por este mundo tenha sido um tempo bem empregado mesmo com nossos defeitos e limitações (meus desafetos que me perdoem...).
Até que esse dia chegue, o que for possível a gente faz, e o que não for, que possamos continuar ...a salvo...

Continuar...mesmo sem curas, sem certezas, mesmo sob as nuvens escuras, mesmo sem garantias: continuar - a salvo.

Por quê repeti "a salvo" tantas vezes? Segue o vídeo:




Desejo uma boa semana "a salvo" pra vocês. 
Abraço.
Jo

Vontade de Viver

Em 24 de Junho de 2012:


A vontade de viver que não nos deixa desistir da luta é porque ainda queremos vestir um colete salva-vidas como este e trabalhar para ver um mundo diferente.Pedimos à Deus tempo e, se ele conceder, a gente continua. Se não, esperamos que outros continuem por nós, porque muita coisa precisa mudar e não dá pra ficar esperando. Fica o convite.
Comecem hoje a agir junto, porque na verdade a gente não sabe se tem amanhã pra fazer a diferença. Assista: 




http://www.youtube.com/watch?v=lTdlttkgTmI&feature=fvsr



Bei-JO e bom final de semana.

1983

Em 6 de Junho de 2012:


Queridos,

A demora em escrever se deve tão somente à limitação física para isso. Tive dias difíceis em que o corpo exigiu pausa, ler e escrever eram um passa-porte para dores de cabeça terríveis e os efeitos colaterais da radio e dos remédios estão ainda muito intensos. O médico autorizou visitas após o dia 10/06.

Retorno a Fortaleza para uma nova etapa, a reabilitação após a radioterapia. Retomar a rotina, botar a casa em ordem e devolver ao corpo o equilíbrio perdido com a radiação e a sobrecarga química dos remédios. "Pra retornar e enfrentar o dia-a dia/reaprender a sonhar"... Um momento que demanda disciplina e paciência, e a única certeza é a espera de mais 40 dias para uma avaliação do que se conseguiu até aqui e seguir em frente. E bem, independentemente de resultados e prognósticos, porque Deus cuida de nós. 
Isso me faz lembrar de quando eu aprendi uma das lições mais valiosas da minha vida, e que sempre me valeu muito e continua valendo. Era o ano de 1983, eu tinha uns 13 anos e assistia televisão (à válvula, uau!). Durante o programa ouvi essa música pela primeira vez e ela ficou gravada na alma, especialmente uma frase: "A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não". Bom, o mundo disse não muitas vezes, e eu fui aprendendo a sorrir mais. Dessa vez não está sendo diferente. Essa lição marcou tanto que adotei a música como tema do site A pedra e a borboleta em 2004- o site está sendo reformulado mas a música vai ser mantida. O mundo não nos diz "não" porque é mau. O mundo diz "não" pra gente aprender a sorrir mesmo com o coração apertado...uma arte que nos fortalece e adoça o caminho. A emoção começa agora.


Abraço grande, tenham uma maravilhosa semana

3 Pequenos Pássaros


Em 15 de maio de 2012

Há tempos não escrevo, os últimos tempos foram difíceis.
Hoje houve uma nova crise, e o edema cerebral mais severo requereu aplicação de corticóides injetáveis. Novo encontro com as agulhas e tudo o mais.
Sou grata pela eficiência das agulhas. Elas são rápidas e eficientes, e poupam o estômago. Muito bom.
Cheguei faz pouco do hospital.

Bem-aventurado aquele que chega do hospital e toma um bom banho quente. Meio trôpega, precisei da cadeirinha pra tomar banho de novo...
Os olhos e a cabeça ardiam como se tivessem passado semente de pimenta no meu cérebro e nos olhos. Vontade de rasgar a cabeça pra lavar com água e esfriar, sei lá...Queima muito...
Enquanto a água corria, hoje pela primeira vez eu chorei de exaustão e dor sentada na cadeirinha. Um cansaço intenso que paralisa.
Olhei meus pés, mãos, joelhos...e me dei conta de uma coisa: se o corpo está sofrendo, o tumor no meu cérebro também deve estar, e toda essa reação é sinal de que a radiação está agindo para os dois lados. Fiquei tomada de alívio por essa conclusão.

A gente quer evitar sofrimento, dor, frustração, procura fugir das angústias e inseguranças, do desconforto, numa atitude absolutamente ignorante.
Todas essas coisas só são ruins se encararmos como uma experiência negativa, quando é apenas experiência e a qualidade dela depende do valor que a gente atribui ao que é bom ou ruim. Mas a grande verdade é que evitando essas coisas estamos como que "desenvestindo" na vida. 

As angústias e o desconforto nos levam a confrontar nossos monstros escondidos sob os tapetes empoeirados da alma, a dor fortalece, a frustração ensina a arte de levantar várias vezes(essa é bom aprender logo), a insegurança nos leva às fronteiras dos fantasmas imaginários que criamos. Preferimos alimentar nossas fobias, nossas manias e nossas "verdades" cômodas com desculpas ou culpados. Sofrer não é agradável, mas não é de todo amargo. As maiores vitórias são obtidas quando a gente sofre, porque é quando temos que superar até o que a gente não quer ou pensa que não pode.

Deus nos presenteou com um mundo repleto de coisas maravilhosas e nos dá a chance de usufruir esta vida plenamente todos os dias.
Eu estou pronta para amanhã de novo com tudo, e vou usufruir muito de cada fatia do dia, e do dia depois dele e assim por diante. Com ou sem dor, viver é urgente, amor é imprescindível e coragem é fundamental. Sempre, sempre. Muita fé e deixando transbordar o coração da boa, perfeita e agradável vontade de Deus.

Você deve estar se perguntando dos três pequenos pássaros que são assunto desse e-mail...


Desejo um final de semana fantástico pra vocês, talvez até consigam um tão abençoado quanto o que o que eu vou ter por aqui...

Bei-JO e que as suas vidas sejam inundadas de luz, de sorriso e quem sabe algum momento de 'dor produtiva'.

Carta de Peregrino


Em 23 de Abril de 2012:

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória; Não atentando nós para as  coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas." 
( 2 Co 4:16-18 ) 

Outro dia perguntaram ao meu marido Leandro se eu estava mesmo bem como aparentava nos e-mails. Também perguntaram se eu estava assim porque ainda "não tinha caído a ficha" sobre a gravidade da minha situação, se eu estava consciente do tamanho do problema, dos riscos. Hoje um outro paciente da oncologia disse que pensava que eu era acompanhante, que jamais imaginaria que eu era um dos "doentes".

Ruim não é morrer, ruim é viver pela metade.
Eu nunca vivi pela metade.
Desde que eu recebi o diagnóstico dos médicos, confesso que realmente não senti medo do que viria. E muitos de vocês presenciaram isso. Senti sim urgência de organizar coisas que vinha adiando, tomar decisões, mas acima de tudo sentia uma segurança muito grande. Não pedi à Deus que me curasse, não quis saber respostas de por quê nem para quê, nem se iria viver, morrer, sofrer sequelas. O que pode parecer uma atitude alienada não foi outra coisa além do foco em uma única coisa que permanece imutável desde o primeiro momento até agora: uma confiança absoluta em Deus e uma certeza inabalável de que Deus faz tudo certo...e sempre.

Este tem sido o pensamento que me tem alimentado. E dessa forma o desfecho da situação deixou de pesar. Chamei meu filho para uma conversa e lhe disse: "-Olha, somos peregrinos. E os peregrinos só têm uma opção: ou sentam e choram de dores nas pernas, ou andam. Não dá pra fazer as duas coisas...quem lamenta não anda. Nós vamos andar na direção determinada por Deus, que essa não tem erro." 
Isso me valeu nos momentos mais difíceis da minha vida (que não foram poucos). Mas ainda que o nosso corpo exterior se corrompa, como diz o versículo lá no começo, (nossa carne, nossas vontades, metas, valores e conceitos) o interior focado na direção de Deus sem esperar mais nada além de harmonizar-se com ela se renova a cada dia como que banhando-se em uma fonte inesgotável de energia nova, força espiritual, paciência e disciplina.

Estou compartilhando com vocês um caminho de superação na adversidade para que usem também em suas trilhas. Não falo de esperança, porque esperança é traiçoeira e tende a nos levar a crer naquilo que nós queremos, o que nem sempre é o melhor. Falo de fé, que é descanso para o espírito e água para o cansaço da jornada. Te faz voar quando o corpo não anda mais. Te aquece apesar do frio, te envolve quando inseguro e...te faz ter um comportamento inesperado para quem olha de fora: a ameaça está lá, o medo e tudo o mais...e você levanta, sorri e atravessa a porta tranquilo. 

Não digo que seja sem dor, mas para cada dor há um bálsamo novo a ser descoberto.
Essa jornada vale a vida. O intenso que você aplica à vida lhe arrebata para o mais alto céu quando você precisa. Não estou falando de crença, religião nem doutrinas. Estou falando de essência de fé. E fé não é uma religião, fé é um princípio de vida. É uma consciência de que somos parte de algo muito maior que nós, e humildade para nos satisfazermos em fazer parte ao contrário de ser dono ou controlar.

Quem tem fé usufrui a vida, quem quer controlar se extressa organizando uma festa que não é sua.
Você acorda, tem sua agenda, seus compromissos, e antes que o dia aconteça você já o coloriu, porque acha que controla a festa. A reunião foi diferente do que vc esperava, o que era pra ser de um jeito saiu diferente, o tempo não "rendeu". Você usou sua energia se desgastando para organizar uma festa que não era sua e se frustrou. Você correu pelo caminho e nem viu por onde andou. E a vida não teve brecha pra acontecer. Saber planejar é saber preparar sem definir prematuramente.

É bom falar com Deus. Nada elaborado, palavras simples e ditas com verdade no coração, sem medo de mostrar o nosso "feio", o nosso "corrupto", o nosso limite. No vídeo abaixo apresento uma sugestão, algo que aplico e que sempre me faz muito bem. Independente de crenças e religiões, falar com Deus é fácil, direto, sem operadora, sem taxas, é você e a vida em sua forma mais pura e direta. Una-se à isso, e experimente a força extraordinária do dedo de Deus tocando em você e te enchendo de força, como faz comigo todas as manhãs quando canto isso no chuveiro...é, no chuveiro.
Se você não sentir nada, bom...pelo menos a dica foi grátis, né? Espero que te ajude como ajuda à mim. Ouça e se entregue de coração, preste atenção em cada verso da letra e vooooeeee, porque é muito gostoso poder fazer isso.

Um maravilhoso final de semana, mente aberta e coração transbordando muita coisa boa. Isso é cura.
E não esqueçam: viver é cada vez mais urgente, amor é imprescindível e coragem é fundamental.







Amanhecer

Em 19 de Abril de 2012:

Quando eu era meninota, em Porto Alegre, costumava brincar de fazer as coisas no escuro. Andar pela casa, guardar e pegar coisas na cozinha...a sensação de desafio, de dominar o medo era estimulante. 
Hoje me lembro daquilo que antes era uma brincadeira de menina, e de fato aquilo me ensinou mais do que eu imaginava. Quando os aparelhos se fecham e tenho que respirar curto e acalmar...fico num escuro claustrofóbico mas não tenho medo de sufocar, eu ouço Deus falando baixinho ao meu ouvido: -"Vai amanhecer!".
Agradeço muito pela oportunidade que estou tendo de brincar no escuro outra vez. Quando menina eu aprendi a desafiar o medo do escuro. Agora Deus me ensina a dominar o escuro. Não peço milagres de cura, nem peço para não sofrer. Digo apenas "Eis-me aqui" e sei que a vontade de Deus é o meu melhor destino. Creio nisso somente, simplesmente. Não preciso de mais nada além disso. Estou em paz e me sinto privilegiada.
O Leo tirou umas fotos pra matar a curiosidade, e como de costume, mando um vídeo pra vocês que, no meu ponto de vista, é a essência da Páscoa.
Bom feriado e que cada amanhecer de vocês seja mais luminoso que o do dia anterior.
Ressureição: que o novo se faça presente na vida de vocês e que estes dias tragam força, alegria, paz e disposição para o novo dia.
Com carinho,

Jo



Meu coração está com pressa

Em 18 de Abril de 2012:


Pessoal, hoje vivi um momento inspirador pelo qual sou grata e por isso mesmo quero compartilhar, assim como quem espalha pétalas de flores ao vento para que outros sintam seu perfume.
Afinal a vida tem perfume, tem movimento que deve ser compartilhado para que a beleza se multiplique.

No começo da tarde comecei a sentir um forte formigamento na cabeça inteira, senti como se fosse desmaiar. Estava já chegando ao hospital para a sessão de radioterapia, e me dirigi rapidamente à enfermagem da oncologia, conforme a orientação deixada pelos médicos nesse caso. Não estava bem, não. Após um rápido exame (fui prontamente atendida), fui acomodada em um local confortável e preparada para receber oxigênio, pois rapidamente os médicos diagnosticaram que o problema era uma má oxigenação momentânea no cérebro. Após poucos minutos comecei à "voltar"...

A primeira coisa que me veio `a cabeça foi "puxa vida, ainda bem que isso aconteceu quando eu já estava chegando e que o pessoal foi tão rápido". E imediatamente pensei num monte de pessoas que não poderia usufruir de um atendimento assim, lembrei dos que morrem nos hospitais por falta ou mal atendimento, dos que nem tem acesso à hospital e ficam pelos corredores vitimados pela imoralidade da condição em que opera nosso sistema público de saúde. Pensei na corrupção dos planos de saúde que tentam se esquivar de responsabilidades com seus procedimentos, autorizações e coberturas, mau pagamento dos profissionais de saúde, das mães em trabalho de parto sem assistência, em fim, da vida que se esvai por falta de socorro, de cuidado, de amor, de justiça.

Tudo isso pensei em minutos.

Depois experimentei um instante de indignação que crescia. E aí? Como fica? A gente se sente impotente, revoltado e faz o quê? Era como se eu precisasse daquele oxigênio para aliviar uma revolta interior: Todo mundo deveria ter a chance de receber o devido socorro, ser tratado com dignidade, pensei.
Pensei que o O2 puro para quem tem respirado a poluição paulistana estivesse me levando à algum tipo de condição delirante, e eu só estou acostumada com a condição de "doida", não de delirante... 
Alguém em uma sala vizinha falou alguma coisa sobre batimentos cardíacos acelerados de algum paciente...coração com pressa...e na mesma hora eu lembrei desse verso que fala sobre coração com pressa: 

Venha!
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a Verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha!

Que o que vem é Perfeição!...

Me senti melhor aos poucos, e comecei a compreender que a revolta que a gente sente diante do que não pode controlar paralisa nossa capacidade de buscar um modo lúcido, equilibrado para agir de modo eficiente no momento certo.
Então pra entender, eu vou pedir que assistam o vídeo com atenção até o final. Combinado? 
Um grande abraço, fiquem com Deus.




Delirante, Eu?


Em 16 de Abril:

Aos que são, como eu, cavaleiros da triste figura, Dons Quixotes que sonham com a mais verdadeira realidade:



O décimo primeiro dia

Em 13 de Abril:


Passei um dia e uma noite em uma cela no inferno.
No décimo primeiro dia de tratamento, os efeitos da radioterapia vieram de uma só vez, avassaladores.
A cabeça parecia estar sendo aberta à pancadas, e o estômago, queimando,  já não tinha mais o que botar pra fora. No entanto ele não parava de tentar. Eu pensava: "preciso da mente sã neste corpo insano que eu não controlo mais... "

Coquetéis de remédios pra tanta coisa que já falta espaço na mesinha...o corpo precisava se adaptar, responder.
Lá, deitada no chão do banheiro, eu não conseguia mais levantar a cabeça (pelo menos tinha conseguido tirar a cabeça do vaso sanitário, já era alguma coisa, hehehe)
Febre, calafrios, suor e as pancadas e ferroadas na cabeça. Virei uma criatura sem dignidade jogada no chão do banheiro.
A sensação de cair...cair...cair num abismo do inferno.

Fechei os olhos apertando como se gritasse e no que me restava de consciência lembrei os primeiros versículos do Salmo 121: "Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra." 
Deus ouviu e respondeu. Mandou um anjo para me mover enquanto outro cantava. Não importa se os braços do inferno surgem para te puxar, os de Deus são mais fortes e extensos para te trazer de volta! Não existe remédio maior que a fé! Consegui ir até o chuveiro e lá, no chão, com a água lavando a dor e o desconforto, ouvi algo parecido com isso:





Um ponto mais alto

Em 29 de março:


Continuo aprendendo, tentando até chegar a um ponto mais alto...





http://www.youtube.com/watch?v=9ImL8AliKxQ