quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Fazendo Bolo


No último dia 22 de Novembro completei 9 meses desde o diagnóstico. Uma longa e trabalhosa gestação de mim mesma. 
Naquele dia 22 de Fevereiro, pelas considerações dos médicos, não pensei que chegaria tão longe.
Faltam 24 dias para o meu aniversário, o tumor reduziu um pouco de tamanho. O cabelo cresceu, a visão normalizou e continuo sem juízo. Considero isso um milagre.

Hoje pela manhã recebi uma mensagem de S.O.S.

Pensei em quantas pessoas estão vivendo situações complicada de alguma forma, enfrentando algum desafio.
Encurralados, que olham para todos os lados e não encontram portas ou janelas. Precisam tomar decisões difíceis, não podem expressar como se sentem, estão oprimidos de alguma forma, sufocados. Muros de injustiça e incerteza, falta de motivação. Obstáculos que drenam sua energia e disposição para viver, trabalhar, usufruir mais dos dias.
Como mudar esse cenário? Muita gente poderia dizer que "Não há receita de bolo pra isso".
Gente demais sabe o que precisa ser feito, mas quase ninguém sabe como. Sem a receita, os ingredientes não servem pra nada, não produzirão resultado. Vão apodrecer sem uso.
Resolvi arriscar e compartilhar uma receita. Só essa, porque as da minha cozinha guardo à sete chaves.

Anote aí:

Receita do Bolo da Vitória


Ingredientes:

Para a massa:

Saiba quem você é, onde está e onde quer chegar. (pode combinar com boas leituras, boas conversas e uma boa dose de reflexão)
Autenticidade para assumir a si mesmo
Coragem apesar do medo
Amor apesar de tudo
Sorrisos para dar leveza

Para a cobertura:

Agressividade sem violência
Ambição sem ganância
Generosidade sem ingenuidade
Humor para adoçar

Junte todos os ingredientes da massa sem enganar a si mesmo sobre algum dos ingredientes para não "solar" o bolo.
Assar em fogo brando para não queimar o fundo e a massa ficar crua - use bem o seu tempo.
Quando a massa estiver pronta, prepare a cobertura adicionando os ingredientes conforme a necessidade numa tigela de bom-senso, lembrando sempre de usar a colher da adaptação mexendo em movimentos suaves e regulares para não desandar.
A cobertura estará no ponto quando não escorrer da colher nem desprender da tigela.
Cubra o bolo e polvilhe com fé.

Sirva acompanhado do conteúdo do vídeo à seguir, saboreando bem cada fatia:


terça-feira, 27 de novembro de 2012

Café com Maquiavel


Hoje tive um momento para um café bastante reflexivo.
Confesso que estou cansada da pouca profundidade alcançada por nós quando temos que valorar nossa existência.

O quê move o mundo? O quê lhe move?
Dizem que o que move o mundo é o dinheiro.
Discordo. O que move o mundo são os líderes que usam o dinheiro.

São os líderes que formatam as sociedades, as organizações, a família.
Somos líderes de nossas vidas a cada decisão tomada.

Dizem que o mundo como conhecemos hoje vai acabar. Será? Até que ponto seremos capazes de promover essa mudança?

Como docente de Seminários de liderança aqui, nos Estados Unidos e na Ásia, preciso me manter sempre atualizada em termos de tendências, ideologias, conceitos sobre esse tema. 

Recentemente li entrevista de Gary Hamel, autor de "Liderando a Revolução" (um dos meus preferidos), e do recente  "O que importa agora" (Ed. Elsevier).  Ele exalta a necessidade de priorizar a inovação desburocratizada e que proporcione autonomia (descentralização do controle) na tomada de decisões, baseada na confiança, nas competências e em valores claros e bem definidos. Quantos de nós vive essa realidade no dia-a-dia?

Aí você me pergunta o que gestão de empresa tem a ver com a vida prática. Tudo. Empresas são como organismos e os organismos funcionam ordenadamente para cumprir "metas" estabelecidas por cada órgão para manterem-se vivos.

Donas de casa são líderes e definem os mercados. Mães e pais são líderes e formam agentes da sociedade e das economias assegurando o futuro das nações (emocionalmente equilibrados ou não, fortes, fracos,íntegros,corruptos).

A maioria da sociedade, já dizia Maquiavel, é incompetente para liderar sua própria vida e forma uma grande massa de manipulação. Mas isso é assunto velho...

Porém, Maquiavel, em sua "Arte da Guerra"(sim, nem só de Sun Tzu vive a estratégia) fez algumas considerações que parecem extraídas de qualquer revista Época ou Carta Capital de hoje: mudou o prato, o bolo continua o mesmo.

Costumo dizer em minhas aulas que toda a forma distorcida de liderança é corrupta. Porque já não focará no propósito e sim nos interesses agregados ao processo. É como um remédio cujos efeitos colaterais são mais intensos do que a melhora. Pensamos em corrupção, pensamos na política. Mas a política está muito além das esferas governamentais. Toda a vez em que você lida com conflito de interesses em casa ou no trabalho, faz política. A política é o que sustenta as relações do mundo civilizado (às vezes de modo pouco civilizado) - ela é que define para onde vai o dinheiro, quem será favorecido. Quando o filho negocia a mesada com o pai, quando a esposa quer ir à um show que o marido não quer, quando decidem as férias, o que comprar, quando as empresas definem prioridades e quem influencia quem, faz-se política.

Falando em influência, essa é a arma essencial da política. Para corrompê-la ou para o avanço do interesse comum.

O mesmo Maquiavel, em seu livro "O Príncipe" diz, na pág. 214: "O primeiro método para estimar a inteligência de um governante é olhar para os homens que tem à sua volta." - por quê? Resposta simples: influência. - Você está à altura daquele por quem é influenciado.

Assim é que a euforia por mudanças precisa ser vista com olhos mais atentos: mudar é necessário, mas a borboleta jamais deve mudar para lagarta. A flor não muda para botão. Uma coisa é certa de qualquer forma: Para mudar é preciso coragem e ousadia. Você tem?

Guitarras em riste, segue o vídeo:


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O rei está cego

O Natal celebra a vinda de Jesus Cristo à este mundo para dizer verdades.
Foi morto pelo mesmo motivo.
Suas verdades eram inconvenientes. Comprometiam a  comodidade da dominação, da corrupção, da manipulação.
O lícito nem sempre convém, já disse o apóstolo Paulo.
A música Amazing Grace diz " Eu estava cego mas agora eu vejo".
Porque é preciso VER - dade para que não se construa castelos sobre solo fraco.
A cegueira leva ao colapso, à ruína.

Quando o rei está cego, o reino fica mudo - porque não adianta expor a VER-dade diante de quem não quer enxergá-la.
Não adianta dar ao rei óculos, lunetas para que enxergue melhor ou mais longe porque ele simplesmente não quer enxergar aquilo que não convém. O rei não tem tempo para  a VER-dade.  
Não adianta construir altas torres no castelo de um rei cego, porque a única serventia delas será de trampolim para o salto dos suicidas da corte que não suportarem mais a cegueira do rei, e o rei ficará só, sem ter quem apóie a estrutura de seu reinado, que ruirá. O rei não enxerga seus VER-dadeiros amigos, aqueles que nem sempre concordam com ele...antes, manda decapitá-los.
Vivemos num Império de mentiras convenientes, de relacionamentos convenientes e onde falta coleta do lixo debaixo desse tapete.

Eu não quero mais mentir. Não quero mais esse peso sobre minha morte.
Este tempo precisa acabar, porque é um reino de cegos, corruptos, fracos que se alimentam da carne da mentira que os faz apodrecer lentamente por dentro.
O seu mau cheiro nauseante não consegue mais ser disfarçado com falsos sorrisos nem falsos abraços.
Sim, muitas vezes o rei cego e seu séquito de deslumbrados corruptos vencem.  " Aos vencedores, as batatas" - podres, para que não haja desperdício de boa comida.
Mas pensando bem, eles não vencem, apenas prevalecem por um tempo - o que é vitória afinal, na visão pessoal de cada um de nós?
Saio do reino porque sou inconveniente. Levo meu cajado e as velhas botas. Prefiro a sujeira autêntica de pecador ao manto sangrento dos nobres da corte. Escolho o caminho pedregoso da trilha ao piso de vidro do palácio.
Vou em busca do reino do ar fresco.
Quando chegar lá, vou cuidar do jardim e fazer o jantar.

Segue o vídeo:

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

23 de Novembro 31:8


Aquilo não era um pesadelo, era real.
Acorrentada, não dava para fazer muita coisa naquela situação.
Estava trancada ali quando o nível da água começou a subir.
A chave para abrir o cadeado estava perto, mas era quase impossível alcançá-la com os dedos... 
A água gelada causava dor nas articulações, paralisava os músculos.
O queixo tremia e os dentes batiam à ponto de trincar, a voz não saía de tanto frio, não conseguia gritar.
A morte era iminente e àquela altura o afogamento parecia inevitável.
O coração batia lento e a visão estava nebulosa.
Aproveitando a leveza proporcionada pela água que matava os sentidos, escorreguei como pude alguns centímetros, quando finalmente consegui tocar a chave e com algum resto de energia movi os dedos devagar e a chave encaixou de algum modo que não dependeu de minha vontade.
O cadeado se abriu e as correntes cederam.
Finalmente poderia nadar rumo à saída.

Recebi hoje o resultado dos últimos exames, e o laudo médico conclui que, comparativamente com o exame anterior, " houve leve regressão nas dimensões da lesão neoplástica (tumor cerebral) ". Está cedendo. A cada milímetro reduzido, nos aproximamos mais da vida.

Deus permitiu que todo o corpo congelasse, mas preservou as mãos o suficiente para que os dedos tocassem a chave.

" O Senhor, pois, é aquele que vai adiante de ti; ele será contigo, não te deixará, nem te desamparará. Não temas, nem te espantes." 
(Deuteronómio 31:8).

Acreditar sempre, andar sempre, sorrir sempre. Derrota não existe no coração daquele que sabe pelo quê luta

Quer saber como me sinto? É só ver o vídeo: 


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Câncer


São Paulo, manhã chuvosa.

"- Ai, que coisa triste!" , disse a manicure balançando a cabeça enquanto se preparava para começar a fazer minhas unhas.
Com a cabeça ela acenava para o topo da pilha de revistas, e continuava: "O pobre do Marcos Paulo (ator e diretor de cinema e televisão) acabou morrendo...eu achei que ele tinha se curado do câncer..."

Uma mulher que havia chegado há pouco e se jogado no sofá ao meu lado respondeu enquanto olhava a revista à que se referia a manicure: "- Ah! Mas isso é assim mesmo, quem tem essas coisas de tumor sempre acaba morrendo logo, não adianta. Eles dizem que estão bem, daí morrem no hospital."
A manicure, que sabe do meu tumor no cérebro, manteve a cabeça baixa e me dirigiu um breve olhar constrangido, começando a dedicar atenção extra à lixa de unhas.

"- Essas doenças não têm cura " , continuou a mulher, "- Se a pessoa não morre do tumor, morre do estrago que ele deixou." Folhou um pouco mais a revista e depois levantou-se num rompante para ir falar com o cabeleireiro.

Sorri para a manicure e disse "-Tudo bem, tá tranquilo." Ela resmungou alguma coisa sobre os comentários da mulher e tratamos de mudar de assunto.
Mas o que aquela mulher disse me deixou pensando: Não basta extirpar tumores, é preciso cuidado com o efeito residual que eles podem deixar. Efeito residual que pode causar outros males e levar à morte. Isso quer dizer que não basta tratar o foco de um mal em si, é preciso que haja uma cura mais ampla de modo a neutralizar a ação residual desse mal que pode ficar latente ou escondida em algum ponto não percebido.

Se você não extrair  o câncer ele vai matar as células saudáveis e elas morrerão. Se não tratá-lo em todos os âmbitos do organismo, inclusive com a mudança profunda de hábitos, pensamentos e percepções que isso acarreta, morrerá devido ao efeito residual desse câncer. Isso se aplica não só ao nosso corpo, mas à tudo na vida.

Quantos tumores existem em sua vida, em seu ambiente de trabalho, em seus relacionamentos? A sua empresa tem câncer? A sua vida tem câncer? E sua família, tem câncer? Quanto tumores você tem? Quantos deles impedem o seu crescimento e o daqueles que convivem com você sabotando sua família, sua equipe de trabalho, sua relação com as pessoas...quantos? O que impede você de extraí-los antes que contaminem tudo irreversivelmente?
É preciso coragem para tomar decisões e agir, porque isso tem um preço e esse preço nunca é barato. Mas preço a gente paga por aquilo que tem valor, se não custa é porque não vale -  e sanar as nossas vidas vale muito. 

Se não curar o todo você não vence, só adia a derrota.

Segue o vídeo de hoje: