sexta-feira, 21 de junho de 2013

Gritos em Lilliput





“Há diferença entre nada fazer e nada ter que fazer.”
 Lemuel Gulliver em "As Viagens de Gulliver"

Em 1726, quando o escritor Irlandês Jonathan Swift escreveu o clássico da literatura "As viagens de Gulliver", uma crítica à vida política e à hipocrisia social de seu tempo, provavelmente não imaginava que a terra Brasil pudesse, no final das contas, tornar-se a terra de Lilliput.
No livro, Swift conta a história de um homem desiludido com o mundo que buscava aventuras em viagens de navio, chegando à Lilliput após um naufrágio, despertando cercado por homenzinhos que o haviam amarrado enquanto dormia.


Séculos depois estamos aqui, em plena Copa das Confederações, como Gulliver após o naufrágio, acordando para soltar as amarras que nossos algozes utilizaram para nos imobilizar durante nossa longa perda de consciência. 

Enquanto escrevo, ouço os estrondos dos tiros com balas de borracha e bombas de efeito moral utilizadas pela força policial para conter o quebra-quebra e a multidão em protesto perto daqui. Gritos de guerra, bolas de futebol, spray de pimenta e, como não poderia deixar de haver, aproveitadores e violência - o espetáculo triste proporcionado por vândalos (contratados ou não) com o objetivo de desmoralizar o povo e sua demanda legítima, e de tirar proveito da aglomeração para roubar e deixar vir à tona o animal enjaulado dentro de si. Os "Yahoos" citados por Swift em seu livro.O ônus do amadurecimento de um país. 

Gigante pela própria natureza, roncava em sono profundo hibernando em alienação e futilidade enquanto, sem perceber, era imobilizado pelos homenzinhos de Lilliput, para quem tornou-se um estorvo e uma ameaça ao despertar.

Gente pequena não gosta de gigantes, e os ataca e quer amarrar por temer sua força. Por isso não raro os gigantes são retratados como idiotas, para que sua força seja ridicularizada e fragilizada por sua imbecilidade. Mas a realidade não é bem essa. Pelo menos nem sempre.
Gigantes podem ver as estrelas mais de perto, percorrer distâncias maiores, suportar mais peso, fazer mais e, se tiverem sabedoria, usar sua força na medida certa e de forma construtiva sem menosprezar o que é detalhe.
Gigantes são difíceis de derrubar. Contudo, uma vez caídos, seu peso pode exigir um grande esforço para que possa levantar.

Assim, ainda que com grande esforço, o gigante desperto poderá erguer-se e ampliar o alcance de sua visão.
Que a final da Copa não seja o final do processo, para que o gigante não apague a luz e vá dormir novamente em berço esplêndido.

Levantar diante da adversidade é um desafio diário, até para gigantes.

O vídeo é especialmente feito para esse post, publiquei hoje no youtube:







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