sábado, 20 de fevereiro de 2016

A Pedra e a Borboleta – Voando em Silêncio


A borboleta pousou sobre a pedra, mas algo fez com que a pedra esmagasse a borboleta. Só restou a pedra.

De repente o sol se pôs, o céu se fechou em espessas nuvens de agonia e os trovões se confundiram com os gritos dos seus pensamentos. Não há como evitar a tempestade.

Só há silêncio no coração. O que havia sido criado como certo começa a ruir ao redor, puxam-lhe as asas tentando arrancá-las e os ossos das pernas parecem pulverizar.

O evento, que para alguns pode parecer violento e triste, é bem mais corriqueiro e necessário do que se pensa (ou deseja).

Diante da indiferença, da rudeza cruel das palavras que ferem, diante de atos e gestos incompatíveis com sua natureza, alguns preferem dar as costas a si mesmos, negando sua face, permanecendo seguros longe dos espelhos.

Diferente destes, a nova lagarta irá esquadrinhar seu casulo enquanto aguarda novas asas – sim, ela voará outra vez e outra vez ainda .

Só no escuro é possível contemplar as lágrimas cintilando no escuro como se fossem estrelas na noite e deixá-las cair para que dêem lugar a novas luminescências.

O tempo... o tempo é contingência...

Por um momento, só há o silêncio e a pedra.
E na pedra foram escritas lições.

Lições que trazem a certeza de que nunca nos pode faltar uma direção para o olhar, confiança em nossos propósitos, respeito aos nossos limites e a determinação de ir além do medo...

Mas nada de abrigar-se da chuva – ela sai sob a água torrencial, dando-lhe a oportunidade de lavar seu pó ainda que corra os riscos de quem sai na tempestade... pois é preferível a morte de alma limpa à uma vida soterrada na pesada poeira do abandono de si.

Confessa o medo e usa o sorriso como escudo.
As asas de quem é capaz de ver o belo nunca são arrancadas, apenas mudam de cor.

Não há como evitar problemas, aflições nem dores. Estamos todos expostos à vida e a vida segue seu curso a despeito de nossas urgências...

Mas há como atravessar as sombras e  sair delas ainda mais fortes, se pudermos ouvir nosso silêncio. Isso significa saber quem se é e o rumo que é justo seguir.

É a garantia que temos de que nossos ossos serão restaurados e as asas de nossos sonhos não serão nunca arrancadas.

Porque a vida sem sonhos é vácuo, e se não podemos ser absolutos, jamais aceitemos ficar obsoletos.

Não aceitemos ser  pálidos, opacos nas brumas da rotina, perdidos como zumbis na esteira automática de quem não tem destino.

Não há como viver um novo futuro usando velhas muletas.


Há tempo de agonia, há tempo de restauração e há tempo de novas trilhas, novos vôos, nova vida. Sempre.