domingo, 22 de dezembro de 2013

Presente Perfeito

Em algumas horas vou completar 44 anos. A noite está calma e o vento é fresco. Aqui, contemplando um céu quase sem estrelas, tenho muito o que celebrar mas não tenho vontade de festa. Reflito sobre meus desejos de aniversário e concluo que eles não me pertencem mais. Esperei este dia para escrever minha mensagem de Natal e final de ano porque considerei que meu presente de aniversário só faria sentido se fosse compartilhado. 
Este ano o Natal vai ser simples, poucas pessoas em volta de uma mesa à luz de velas e uma ceia, ah! essa sim: com sabores dignos de um rei, preparados na minha cozinha. Sorrisos, música, tilintar de taças e o que eu mais gosto: os gemidos das pessoas ao provar minha comida - coisa do ego, eu acho.
Sem troca de presentes. Trocaremos satisfação, carinho, risada, aconchego, mágica, coisas que as palavras e os presentes não dizem. Nem será preciso. 

Não vou lhes desejar paz, amor nem felicidade, tampouco que seus sonhos se realizem. O que vem de graça não costuma ser valorizado.
Quero desejar-nos à todos algo mais, um presente perfeito.
Desejo que cada um possa perdoar à si mesmo e assim conquiste a paz. Quanto aos que nos magoaram, apenas vacina.
Desejo que possamos fazer parte de um povo do qual possamos nos orgulhar, de um país que nos desperte melhores sentimentos.
Desejo que cada um possa olhar-se no espelho e amar o que vê para não projetar sua insatisfação no próximo.
Desejo que não deixemos o mundo matar nossa necessária esperança na humanidade e que você se sinta feliz em fazer algo para melhorar o mundo, mesmo que por um instante...
Desejo que cada um possa ter a coragem de não silenciar diante da injustiça e assim não se torne seu cúmplice.
Desejo também que não nos falte criatividade para sonhar novos sonhos e desprendimento de sonhos antigos não realizados antes que se tornem frustração. Em vez de esperar que se realizem, realize-os!
Desejo força para chorar sem sentir nas lágrimas a derrota, afinal elas são excelentes professoras.
Desejo a todos nós  o entendimento de que o perfeito não é o ideal mas sim...o adequado. 
Religioso ou ateu, espiritualista ou cético, desejo que a passagem de ano traga à todos a lucidez de não vincular a capacidade de amar à crença.

A vida é uma equação complexa e cheia de variáveis cujo resultado é apenas uma estimativa. Então, abro meu pacote de aniversário compartilhando o que considero o presente mais perfeito que recebi desde o nascimento: a compreensão de que todos os caminhos são possíveis mas apenas um é adequado aos nossos pés, e de que a forma de andar nesse caminho determinará a distância e o destino. Há que se respeitar isso. De dentro da caixa, tiro pra você um novo coração, sem medo, livre, motivado, pronto para conquistar tudo o que os tradicionais cartões de Boas Festas costumam desejar, mas além deles: a certeza de que é possível fazer mais e ser melhor. Sempre.

Bom Natal e que seja Bem-vindo 2014!

Segue o vídeo para muita inspiração :


terça-feira, 12 de novembro de 2013

JustaMente



Novo encontro com o chão, meu velho conhecido.
A pergunta era: O que é que eu estou fazendo aqui? Por um momento tudo e todos ao meu redor ficaram irreconhecíveis.

Quando se tem menos para dar, mais caro a vida cobra. Deus é justo, a vida não. 
A realidade é dura e triste, certamente para pôr à prova a nossa vontade de viver, de crescer e superar as dificuldades, testar a habilidade de luta e, mais que tudo, a resistência. Não fosse assim, nada do que se vê aqui neste mundo faria sentido. 

As belezas da vida estão ali, na vitrine, para alimentar as esperanças e renovar o ânimo para um novo esforço.
Para endurecer o estômago antes do próximo golpe.
A esperança está ali para fazer um contraponto à injustiça e manter as coisas em pé enquanto acreditarmos que ela (a esperança) existe.

Neste caminho amigos não há. Há apenas interesses em comum (e às vezes não tão em comum assim), efêmeras afinidades. Não acredito mais em amigos. Não acredito em caminhos tranqüilos, nem em justiça, pois até a "justiça" mente. Como os amigos, "parceiros", os "companheiros". A gente só conhece o perfil de quem "está junto", ao nosso lado. Mas esse terá sempre os outros lados, outros ângulos que estarão ocultos ao nosso olhar, e que serão mostrados quando você menos espera. Dolorosa, mas necessária lição. Ninguém vai erguer a voz por você. Provavelmente haverá quem erga a voz para você. E cortar fundo com uma faca que desejaria cravar em outra pessoa, só que você está mais perto e acessível, no momento errado. Entendi que, como era durante o Caminho de Santiago,  a vida não provê amigos, apenas companheiros de jornada tentando, como você, andar mais um trecho. Os muito, muito  raros que conseguem ir além disso, esses escolhi chamar de família.

A cada um é dado conforme seus próprios atos no momento em que uma sabedoria maior determinar necessária esta intervenção. 
O que eu ainda estou fazendo aqui? Ainda não sei a resposta. Talvez nem queira saber essa resposta. 
Tentar alargar a mente em um mundo onde as mentes são justas demais, e essas últimas prevalecem? É um trocadilho infame, pois a vida não é justa. Só Deus é. E Ele é largo.

Antes mesmo de aprender a andar, precisamos aprender a mágica de transformar a lama em flores. Porque ao andar vamos cair, curar as feridas, andar mais um pouco e cair de novo. Antes que a lama seque e endureça, ferindo mais, haverei de semear algumas flores. Quem sabe dá tempo de sentir algum perfume. Afinal, continuo aqui e não posso mudar isso. A Justa Mente de Deus, que não é justa, e sim larga e conhecedora da justiça, e que não mente, determina assim por enquanto. O jeito é suportar e aprender, sempre lembrando de olhar as vitrines.

Fiquei com o rosto na lama por dias, sem lamentar. Mas queria me libertar daquela dor pesada que me afogava.

No mesmo dia do tombo compareci à uma ocasião social e depois fui ao hospital ver uma pessoa que estava em condição crítica. No final do dia, apesar de um cansaço emocional indescritível, não conseguia dormir. As dores de cabeça que eu não sentia havia muitos dias, voltaram e vários comprimidos não deram conta. Sentia, de minuto em minuto, ondas como choques elétricos dentro da cabeça e uma sensação aguda de dor nos ouvidos. Sabia que era a pedra em meu cérebro querendo acordar.
Na manhã seguinte mal conseguia sentir meus olhos. Pensei em ir ao hospital, mas logo descartei a idéia pois mal conseguia mexer o corpo. E também porque não queria ir ao hospital.

Deitei na cama. Olhei meu corpo ali e pensei: então, é isso? Você desiste? Vai sentir pena de você e bancar a vítima deitada numa cama se sentindo só e vazia? Se for assim, sou uma fraude e menti para mim mesma todo esse tempo. Levantei com grande dificuldade e fui para o chuveiro. Sentei ali no chão e deixei a água cair por um tempo enquanto chorava o resto que havia para esvaziar. Respirei fundo algumas vezes, coloquei uma roupa confortável, olhei no espelho e disse mentalmente à mim mesma: "Ajuste a mente! Ajuste a mente. Eleve!". Então, abrindo minha caixa de e-mails, recebi uma sugestão de vídeo do...youtube. Isso mesmo. Do robô do google que lhe sugere coisas com base nos acessos que você faz na internet. Resolvi assistir e, após 13 minutos de uma catarse quase violenta entre choro, soluços e dor, um grande, imenso alívio e leveza me invadiram. E eu consegui voar para longe da dor e dos sentimentos pesados.

Você vê o que eu vejo? Você ouve o que eu ouço? Você sabe o que eu sei? Se você se entregar à experiência (use fones) provavelmente vai sentir o que senti. Espero que sim, porque é maravilhoso. Principalmente os algozes que me empurraram na lama nessa última vez. À vocês, agradeço por me darem essa oportunidade e espero que algum dia sejam capazes de sair do chão como eu saí. Já outros, que talvez estejam precisando plantar flores na lama, encontrem nessa experiência as sementes que encontrei. JustaMente por isso compartilho o vídeo e a experiência aqui, com vocês. 

Video de hoje: 




sábado, 2 de novembro de 2013

Kolynos



Fecho o registro da água.
Toalha na mão, levanto o rosto e vejo no espelho a imagem turva de mim mesma.
Ao final do dia, o banho traz a sensação de renovação, de frescor, de conforto. A imagem embaçada refletida no espelho ia se revelando aos poucos. Observei no rosto, no corpo, o registro das minhas histórias em cada cicatriz, ruga, marca de expressão, mancha. Além do corpo, além do olhar, vi refletidas as marcas no espírito. Um inventário de tudo o que me torna aquela identidade refletida no espelho do banheiro, agora não mais tão embaçado, como minha visão, também mais clara e nítida do que antes desse "banho" da vida.

A gente precisa gostar de ser quem é na medida suficiente para não quebrar, e nunca o bastante para congelar sobre um pedestal. O belo não está na perfeição, mas na harmonia entre as imperfeições e a luz própria de cada um. Em paz com o reflexo que o espelho revela além da imagem. Não foi à toa que Cecília Meireles se perguntou: "- Em que espelho ficou perdida minha face?"

Estava ali, despida de roupas e pretensões, tentando desenhar uma nova pessoa. Uma pessoa sem as limitações físicas pós-radioterapia, uma pessoa além das dores, além da rotina e das muitas incertezas. Senti a aproximação de um daqueles momentos de expansão, uma espécie de "transbordamento" que acontece de tempos em tempos. O que mudaria no reflexo do espelho se eu não tivesse a lesão em meu cérebro? 
Banho traz renovação e refrescância. Talvez essas duas andem juntas, afinal sempre falamos no frescor da manhã, da juventude, do começo, da libertação.
Ouvi um tilintar de "fichas caindo"em minha mente.

Lembrei daquela propaganda antiga do creme dental Kolynos, que por questões legais virou Sorriso no final dos anos 90. O jingle da década de 70 dizia "Vai, vai,vai, vai em frente/ Vai buscar a sua glória/ Você vai sentir o novo gosto/ O gosto da vitória/ Kolynos/ Uma refrescante sensação, o gosto da vitória/ Kolynos, Ah!". A propaganda mostrava pessoas felizes na água (não essa coisa infame e sem criatividade dos comerciais de creme dental de hoje, com animações didáticas ou então uma criatura irritante com microfone na mão invadindo a privacidade de alguém). A publicidade e o marketing de qualidade são uma associação de ciência e arte. Contam a história das culturas. Associam produtos à conceitos e geram anseios onde não havia nada, nem mesmo a necessidade. Conhecem os "gatilhos"da mente humana e os disparam para despertar o inconsciente coletivo. Poder incrível, para o bem...e para o mal das mentes "adestráveis".

Não me lembro de ter usado Kolynos alguma vez, nunca pensei que vitória pudesse ter gosto de menta. Mas a vitória tem, sim, algo de refrescante: a renovação do ânimo, a idéia da plenitude das energias.
O espelho estava totalmente seco. Minha imagem estava lá, refletida. Em questão de minutos, ali, após um rotineiro banho num dia qualquer da semana, sem trauma nem glamour, uma mudança profunda havia acontecido em mim. Algo refletido naquela imagem no espelho: Venci. Venci definitivamente.
Não pelo desaparecimento instantâneo da lesão cerebral, não vencemos o problema, vencemos as limitações que o problema nos impõe. De dia em dia.
Cada dia, uma vitória, um transbordar.

Cura é ser maior que a limitação que o mal lhe causa. Liberdade é poder definir o que (ou quem) pode lhe atingir. Sabedoria é ter consciência de que em qualquer situação você retém o benefício do aprendizado. Assim é que, a cada banho, no final de cada dia, você vai sentir o gosto refrescante da vitória de superar a si mesmo e sentirá o frescor de vencer limites. Sua rotina nunca mais será a mesma, cada entardecer será uma celebração. Só somos vítimas do que reconhecemos como inimigo e na verdade não haverá mais inimigos, apenas adversários - o que é bem diferente.  A vida é uma vitória sempre nova, fresca e transbordante, não importa em qual essência ou dimensão estejamos existindo. A derrota só existe para aqueles que acreditam nela, não para quem escova bem os dentes, com ou sem Kolynos.

Dedico este post a Leonardo Cestari.

Segue o vídeo nesse dia de feriado de Finados, pensando nos "inimigos"que precisam ser mortos dentro de nós, para que não mais os projetemos ao nosso redor:

URL: https://www.youtube.com/watch?v=BB-6C7V7LwQ



terça-feira, 17 de setembro de 2013

Ossos Quentes



“São a fome e o amor que movem o mundo” 
(Freud apud Schiller(1759-1805) - "O Mal estar na Civilização" - Cap. VI (1930, p. 139).
 

Caminhava à passos incertos rumo ao hall dos elevadores enquanto guardava as chaves na bolsa.
Havia reservado aquela tarde para visitar a amiga que já não via há algum tempo e que sabia estar em estado grave.
Estava um pouco ofegante após subir os dois pequenos lances de escada que conduziam à entrada do prédio, preço que pagava pelos kilos à mais que a afligiam desde a gravidez e que lhe rendem até hoje uma constante briga com a balança. Uma luta longa e difícil. Tem coisas na vida que demoram mais a se resolver.
A amiga  a esperava na porta quando saiu do elevador. 
Após um longo abraço, sentaram para atualizar os acontecimentos desde o último encontro. Com ar de decepção e um certo travo amargo, disse à amiga que nada novo havia acontecido e dizer isso fez com que pela primeira vez em muito tempo se desse conta da estagnação em que se encontrava, presa em uma rotina de tarefas pendentes. Estava surpresa por ver a amiga bem apesar da doença.
Lembrou que estava ali para levar seu incentivo na qualidade de espiritualista e terapeuta para aquela amiga de tão longa data:

-" O aspecto emocional e karmico são  importantes, é importante você entender que foi você quem colocou esse tumor aí e consequentemente pode tirá-lo. É uma questão de tomada de consciência interior".

A amiga pausou por um momento absorvendo seus conselhos, ela podia ouvir o som da "ficha caindo"e estava feliz por ter cumprido o propósito de contribuir para a descoberta do verdadeiro caminho da cura da amiga. Afinal o sentido de nossa existência aqui é dar suporte uns aos outros para o mútuo crescimento.

Após a pausa, a amiga deu um leve sorriso, certamente devido à descoberta que acabara de fazer e ter agora um novo propósito rumo à cura de sua enfermidade, e respondeu : - "Entendi. É como o seu problema com o peso ..."

Todo o sádico é um masoquista, o masoquista é um sádico. Uma fome de sentir-se, ainda que momentaneamente, em posição de superioridade física, psicológica ou emocional é o que muitas vezes motiva uma aparente "solidariedade". É um momento de alívio para as próprias dores deixar de olhar no espelho por um momento e projetar a nossa carga em outra pessoa sob a forma de "amor" ou "cuidado". Na verdade é fome. É canibalismo psicológico.

A Bíblia resume isso perfeitamente em Mateus 7: 5 : "Hipócrita! tira primeiro a trave do teu olho; e então verás bem para tirar o argueiro (cisco) do olho do teu irmão."

Ninguém habita a pele alheia para saber o que o outro realmente sente. Mais vale o abraço silencioso do que a palavra "sado-solidária".

O amor deve mover mais que a fome. No fim do dia, a luz do farol da fé vai guiar você pra casa, incendiar seus ossos com renovadas forças e você será curado do insano mal-estar da civilização.

Segue o vídeo:






terça-feira, 27 de agosto de 2013

René não usava saltos altos


Estacionamento de farmácia. Encosto o carro próximo à uma vaga onde duas mulheres conversam, uma delas chacoalhando as chaves do carro na mão (tipo "venham me assaltar!") e a outra tentando desastrosamente parecer elegante em saltos exageradamente altos a  entortar-lhe os pés e arquear os joelhos fazendo-a parecer um orangotango depilado de tamancos.
"- Deeeeeus me livre! " 
"- Pois é, amiga, juro por Deus..."foi a parte da conversa quase gritada que ouvi enquanto saía do carro.

Cheguei ao balcão e entreguei a receita médica ao vendedor, que foi andando va-ga-ro-sa-men-te na direção das prateleiras. Ao meu lado chega uma senhora, óculos enormes, agarrada à uma bolsa parecendo vazia. "- Ah, como eu queria não ter que tomar remédio pra pressão alta, meu Deus!" Antes que ela dê seguimento ao que pretende transformar em conversa, pego o remédio, agradeço rapidinho ao vendedor e tomo o rumo do caixa. 
Lá, a operadora conversa com outro funcionário: "- Pois é, meu filho...tô lhe dizendo...só Deus mesmo!"

Entrei no carro e balancei a cabeça: Deus deixou de significar.

Deus virou um cesto onde se joga tudo o que não se quer resolver. E creiam, a gente sempre arranja desculpa para aquilo que não quer fazer e motivo para aquilo que se quer fazer - e em um ou outro desses momentos há quem meta Deus no meio para aliviar, como se fosse analgésico... 
Empurra-se tudo com a barriga esperando que "Deus", leia-se "tempo"ou "alguém", resolva tudo, justifique tudo,esperando que "Deus" torne tudo mais suportável ou verdadeiro, não pela fé, mas porque a credibilidade de Deus o torna uma marca, um "label" seguro para qualquer coisa. Na dúvida, diga "Deus" que fica tudo certo.
Essa palavra justifica o passado, alivia o presente e resolve o futuro. Pelo menos na ótica de quem não consegue assumir sua responsabilidade com a própria vida. "Deus"  emagrece, paga dívida, arranja casamento, emprego, carro novo e até atesta a veracidade da fofoca ...pena que não lava roupa nem cozinha...puxa vida!

Deus cria a vida, mas vivê-la é tarefa nossa. Isso inclui tomar decisões, agir, amar, sofrer e aproveitar.
Por vezes as ações comuns são insuficientes e há a necessidade de "super / ações", por assim dizer. A superação nada mais é do que uma ação extra que eleva o ser através de uma motivação interna muito poderosa para ultrapassar obstáculos superando-os, fazendo a existência  evoluir em um outro nível.

O futuro do qual são  feitos os nossos sonhos nos é roubado um pouco a cada dia. O jeito é não esperar para vivê-los. Viver é mesmo urgente...


Muitas vezes, antes de dar o salto da "super / ação" que conduzirá ao momento de superação (é pra repetir mesmo), precisamos nos encolher e, para tanto, recolher, como se recolhem as águias no topo das montanhas. Catalizar toda a energia gerada internamente a partir de um ato de concentração em si para poder, no momento certo, liberá-la de modo a não perder o impulso no meio do salto. Como uma mola humana. É o estudo das próprias dores, que não deve ser confundido com depressão. É tempo vivido interna e intimamente. A duração desse tempo vai depender da extensão do salto (saltos altos?).

A dor é a hemacea do artista, o alquimista que transforma a dor em poesia viva. Não confunda dor com sofrimento: você pode sofrer com a dor ou aprender com ela, a escolha cabe a cada um. Ao celebrar a vida com sua arte, o artista celebra também a dor, pois a vida é movida pelos desconfortos, necessidades e questionamentos. Buscamos, e  buscamos porque sentimos que algo nos falta, e essa falta é um desconforto. Todo mundo sabe que a vida não é uma festa permanente. Quem vive na festa não vive, apenas existe. Há um abismo de diferenças entre viver e existir nesse mundo. Viver exige movimento, que requer esforço e vontade, que gera desgastes mas traz a verdadeira alegria da realização. ( "No pain, no gain" - Sem dor, sem ganho - é o ditado). 

Me incomoda a tradução da célebre frase atribuída à René Descartes, " Penso, logo existo." Há quem diga que a frase certa é "Duvido, logo penso, logo existo." Na minha visão, ambas estão erradas. Para existir não é necessário pensar, nem tampouco duvidar. Muita coisa (e muita gente) existe, mas não pensa. "Penso, logo SOU."- essa, para mim, é a frase correta.

Deus viabiliza a nossa existência mas é a nossa capacidade de elaborá-la que nos torna quem somos e o destino dos nossos sonhos.
Há quem exista, há quem viva e há quem supere. E Deus...bom, Deus pode ajudar muito, mas não fará aquilo que cabe à nós. Ele apenas dirá: "- Não desista! "

Segue o vídeo:




segunda-feira, 29 de julho de 2013

Adeus, mundo cruel!

Em meio ao fluxo caótico de um trânsito de fim de tarde, a saída por uma ruazinha estreita pareceu uma boa opção para um trajeto alternativo. No final do quarteirão, uma placa indicava: sentido obrigatório. Era o sentido oposto ao que eu queria seguir. A saída que eu buscava iria requerer mais algumas voltas, mas ainda assim era melhor do que ficar presa indefinidamente em um caminho conhecido.

A realidade é um cenário essencialmente cruel. Ela é feita de sangue, suor e cicatrizes. Traumas processados em um liquidificador na esperança de uma digestão mais suave. Tentamos sempre que possível fugir um pouco desse caos por vias alternativas, mas as placas de sentido obrigatório  nos conduzem de volta à luta. Aí vem a pergunta: seria esse sentido obrigatório o sentido da vida? E o mundo cruel nos parece então "sem sentido", esvaziado em um buraco negro de incertezas.

As vias estreitas que muitas vezes nos parecem a saída não conduzem a soluções fáceis. Não há soluções fáceis para coisas difíceis. O que não quer dizer que, com mais algumas voltas, elas não sejam possíveis.

Para alcançar essas soluções, é preciso dar adeus ao mundo cruel. É preciso fazer a escolha por uma via alternativa. É preciso deixar de ser vítima. Assumir a responsabilidade pela mudança de prioridades e se permitir o direito de optar sem culpa. 

Eu conheço o medo de ir embora. Ainda assim, adeus, mundo cruel! Vou seguir pela estrada nova.

Boa semana. Segue o vídeo muitíssimo especial de hoje:


sábado, 6 de julho de 2013

Melro


"Cantam os melros, calam-se os pardais". 
Ditado popular português


Ele estampa brasões e bandeiras. Em algumas culturas representa a alma, em outras, as tentações, tamanha a beleza de seu canto.
O tordo negro, o melro, o "quase só".

Há mais pardais que melros.
Ao contrário dos pardais, que piam alegres e saltitantes o dia inteiro, são sociáveis e freqüentam lugares urbanos em busca de migalhas dos homens, o melro é solitário, adquirindo comportamento gregário só em tempos de migração para o bem da proteção dos grupos. Mas não é por conta desse comportamento que quero falar do melro. A razão que me move é outra.

O melro tem um canto único, melódico, e que costuma ser ouvido em um momento específico do dia: a hora mais escura, que antecede o nascer do sol. Ele anuncia que o amanhecer está próximo. Com seu canto melodioso, profetiza instintivamente a luz que está por romper a hora mais escura trazendo a alvorada. 

Ele, o melro, canta como que para nos fazer lembrar de que não há alvorada sem a escuridão que a precede. Às vezes estamos acordados, insones e atordoados em uma vigília angustiante e involuntária, surpreendidos pela hora mais escura. Nesse momento  irá cantar o melro. E os pardais estarão calados.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Entre a Serpente e a Pomba


"Sejam, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas."  - Jesus Cristo - 




Olhei para o espelho. Ele se transfigurou em uma tela onde vi situações, pessoas, atitudes que eu não queria mais em minha vida.
Esse desapego é uma lição difícil.
Em todas as suas formas, sejam coisas, pessoas, lugares, situações: pesa a  incerteza quanto a sermos ou não capazes de continuar em frente sem aquilo que nos é familiar, seja bom ou ruim. É conhecido, estamos acostumados com o que nos aflige e com o que é confortável...e o desconfortável também.

Na grande maioria das vezes, só nos desprendemos quando alguém rompe as amarras na outra ponta da corda. Preferimos manter laços ruins, ainda que arrastando todo o peso atrelado à eles, a ficar com as mãos livres para agarrar o desconhecido e sermos forçados a superar nossos medos. É um vício de viver o mesmo respirando rotinas infames.

"- Eu não quero mais isso. Não tenho mais tempo." foi o que ouvi internamente.
E comecei a mudar. Comecei a afastar de mim pessoas e lugares que não me faziam bem. Parei de forçar-me à pessoas, lugares e situações que me faziam sentir mal por conta de valores impostos ou mera conveniência, ou porque era o que os outros esperavam que eu fizesse. Ao lixo com essas cobranças! Perdoar pessoas, superar as situações e feridas não implica em conviver, não precisamos permanecer próximos à nada nem à ninguém que nos faça mal: Prudência das serpentes. Encerramos o capítulo e seguimos nosso novo e revigorante caminho: Simplicidade das pombas.

Temos que manter perto pessoas que amamos e que nos amam também. Temos que buscar caminhos que nos sejam favoráveis e lutar por essas conquistas. Temos que seguir em frente, rumo à renovação, ao crescimento, ao melhor. Ainda estou no processo, aprendendo a me apegar mais ao verdadeiro que ao conveniente, me apegar mais ao que me faz bem do que ao entulho deixado à minha porta. Estou aprendendo a varrer.

Apesar dos conflitos pessoais que isso gera, o resultado é indescritivelmente libertador e amplia nossas fronteiras a limites inimagináveis inicialmente. 
Ferimos e somos feridos no processo, não há como ser de outra forma. Mudar dói. Sempre. Mas sem mudança não há movimento, e sem movimento não há vida. 

Vou seguir meu caminho a passos mais largos, mais leves e mais livres.

Segue o novo vídeo:




Link do vídeo: CLIQUE AQUI

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Gritos em Lilliput





“Há diferença entre nada fazer e nada ter que fazer.”
 Lemuel Gulliver em "As Viagens de Gulliver"

Em 1726, quando o escritor Irlandês Jonathan Swift escreveu o clássico da literatura "As viagens de Gulliver", uma crítica à vida política e à hipocrisia social de seu tempo, provavelmente não imaginava que a terra Brasil pudesse, no final das contas, tornar-se a terra de Lilliput.
No livro, Swift conta a história de um homem desiludido com o mundo que buscava aventuras em viagens de navio, chegando à Lilliput após um naufrágio, despertando cercado por homenzinhos que o haviam amarrado enquanto dormia.


Séculos depois estamos aqui, em plena Copa das Confederações, como Gulliver após o naufrágio, acordando para soltar as amarras que nossos algozes utilizaram para nos imobilizar durante nossa longa perda de consciência. 

Enquanto escrevo, ouço os estrondos dos tiros com balas de borracha e bombas de efeito moral utilizadas pela força policial para conter o quebra-quebra e a multidão em protesto perto daqui. Gritos de guerra, bolas de futebol, spray de pimenta e, como não poderia deixar de haver, aproveitadores e violência - o espetáculo triste proporcionado por vândalos (contratados ou não) com o objetivo de desmoralizar o povo e sua demanda legítima, e de tirar proveito da aglomeração para roubar e deixar vir à tona o animal enjaulado dentro de si. Os "Yahoos" citados por Swift em seu livro.O ônus do amadurecimento de um país. 

Gigante pela própria natureza, roncava em sono profundo hibernando em alienação e futilidade enquanto, sem perceber, era imobilizado pelos homenzinhos de Lilliput, para quem tornou-se um estorvo e uma ameaça ao despertar.

Gente pequena não gosta de gigantes, e os ataca e quer amarrar por temer sua força. Por isso não raro os gigantes são retratados como idiotas, para que sua força seja ridicularizada e fragilizada por sua imbecilidade. Mas a realidade não é bem essa. Pelo menos nem sempre.
Gigantes podem ver as estrelas mais de perto, percorrer distâncias maiores, suportar mais peso, fazer mais e, se tiverem sabedoria, usar sua força na medida certa e de forma construtiva sem menosprezar o que é detalhe.
Gigantes são difíceis de derrubar. Contudo, uma vez caídos, seu peso pode exigir um grande esforço para que possa levantar.

Assim, ainda que com grande esforço, o gigante desperto poderá erguer-se e ampliar o alcance de sua visão.
Que a final da Copa não seja o final do processo, para que o gigante não apague a luz e vá dormir novamente em berço esplêndido.

Levantar diante da adversidade é um desafio diário, até para gigantes.

O vídeo é especialmente feito para esse post, publiquei hoje no youtube:







quinta-feira, 13 de junho de 2013

Risco

"Guardem os lápis!"

Desafiava meus alunos durante uma aula de pintura na universidade em uma tarde de Quarta-feira.
Alguns me olharam como se perguntassem: "- Como assim?"
 
"- Assim como para a vida não há ensaio, só há preparo, na arte só há estudo, não há rascunhos. Em ambos os casos, vence a ousadia. Agora guardem os lápis e usem seus pincéis, mãos e tintas."

Risco. Pode ser um traço no papel. Pode ser a diferença entre a vida e a morte.
Pode ser a distância entre o sucesso e o fracasso. Pode ser o tempo entre os passos.

Estudos recentes publicados na área da neurologia estabelecem uma taxa de sobrevida  de 5 à 10 anos para portadores de tumores cerebrais benignos, ou 93 meses conforme outras publicações. É o risco calculado. É o meu risco calculado. Certo, mas ainda não definido pra mim. Minha tarefa é tentar, várias vezes ao dia, enquanto durarem os dias.

Risco. Um contrato compulsoriamente assinado entre a vida e cada um de nós no momento em que nascemos.

Assumir as escolhas, optar por uma direção, fazer ou não fazer, dizer ou não dizer. Em todos os casos, corremos riscos.

A diferença entre a vitória e a derrota é o uso que se faz delas. No meu caso, o uso é a luta, não seu desfecho.

Há pouco tempo recomecei a fazer vídeos, ainda estou enferrujada, mas espero que este os inspire:





quinta-feira, 30 de maio de 2013

Vôo



Junho. Faz um ano que voltei pra casa.
Um longo trecho da caminhada...
Foram meses de tentativas, de sobe e desce,
De querer, de não conseguir, de fazer,
De querer outra vez e tentar de novo.
Sobrevivente.
Por enquanto.
Tempo. Mais tempo.
Preciso das Gargalhadas.
Pólen. Vento. Vôo.

Com música de Christopher Tin, na voz de Dulce Pontes, os links pro vídeo de hoje:




http://www.youtube.com/watch?v=AoniRd1Qytw




quarta-feira, 22 de maio de 2013

Foi


20 de Maio de 2013.

Zach Sobiech, diagnosticado com osteossarcoma se foi aos 17 anos.
Sabendo ter pouco tempo, compôs uma música para a família e os amigos. Viveu seu tempo como se fosse viver para sempre. E com certeza vai.

Conviver com a morte é difícil, talvez mais difícil para quem está perto do que para o próprio doente. Mas a gente precisa redimensionar a perspectiva do que é estar vivo e do que é estar próximo. A gente precisa reposicionar as prioridades e  aprender que não nos pertencemos. Só assim se consegue assimilar a idéia de que a natureza da convivência vai mudar, e que presença é um valor relativo.

Aprendi com Zach. Decidi viver pra sempre também. E você, está vivo com toda a sua alma e esperança, com toda a sua força? Está pronto pra decidir que vai viver pra sempre a partir de agora?

Vídeo de hoje: 

domingo, 19 de maio de 2013

Onde está Deus???




Aguardando em uma sala de espera, ao meu  lado uma mulher  com uma menina.
A garotinha devia ter uns 5 ou 6 anos, os cabelos cacheados, adornados por duas fivelas vermelhas, emoldurando as grandes bochecha rosadas. Apertava a boca, mordendo os lábios, os olhinhos escuros molhados, tentando sem sucesso conter o soluçar causado por um longo choro sentido que a fazia tremer.

A mãe tentava consolar a menina: "-Não chora, você pode ter esquecido na escolinha..."
Não me contive: "- Como é seu nome?"
Ela apertou mais os lábios. A mãe, meio sem graça, respondeu:" - Caroline. Fala com a moça, filha!"
Eu agachei até a altura dela: "- Você perdeu alguma coisa, Caroline?"
Ela acenou um "sim"com a cabeça, mas permaneceu muda.
"- É chato quando a gente perde alguma coisa, né?!"
Ela roçou o rosto nas pernas da mãe, encabulada.
"- Eu também perdi uma coisa..."
Ela virou e me olhou fixamente (curiosidade é fogo!). Continuei.
"- Eu não gostei também, fiquei triste, chateada mesmo. Depois eu descobri que sempre que eu perdia alguma coisa eu encontrava outra  melhor."
Ela enxugou os olhos com as mãozinhas. Estava mais disposta a conversar, pelo menos eu achei que estava.
"- Eu perdi a minha bolsinha da Polly..."

Antes que a constatação verbal da tragédia a fizesse desatar no choro outra vez, fiz uma cara de grande pesar:
"- Que chato isso, hein, Caroline, "- ela me interrompeu: " Na escolinha a tia me chama de Carol" 
"Pois é, Carol...o negócio é que sempre que a gente perde alguma coisa a gente precisa prestar bem atenção porque uma outra coisa muito legal vai aparecer assim...de repente!" - e cutuquei a barriga dela no "de repente". 
Ela riu discretamente, depois lembrou que precisava ficar triste outra vez pela perda da bolsinha da Polly. 

Uma outra senhora que estava sentada próxima à nós olhou por cima dos óculos, a voz grave, disse: "- Deus não devia permitir que um anjinho desse chorasse. Judiação, olha!"
Alguém chamou meu nome, era minha vez de ser atendida. "- Tchau, Carol!"

Ficou para a mãe dela a missão de ajudá-la a encontrar a "nova coisa interessante". Entrei no consultório pensando: "Obrigada, anjinho, por me lembrar dessas coisas hoje. "

A médica me perguntou como eu estava e eu respondi "Muita dor de cabeça hoje." - sem me dar conta, até que a médica me chamasse à atenção, de que eu havia dito isso com um sorriso no rosto. "- Jô doida..." ela disse, balançando a cabeça.

Perdas e ganhos. Entre eles, a experiência. Perdi alguma coisa. Algo que me era valioso. Os dias de crise me fazem lembrar dessa perda. 
Mas essa perda abriu espaço para ganhos maiores, mais valiosos e ainda mais interessantes. O preço é alto, verdade, mas se assim não fosse eu provavelmente não valorizaria...meu DNA é humano. Eu acho.

Quando algo ruim nos atinge de algum modo podemos pensar que naquele momento o "livra-nos do mal"do Pai Nosso falhou. Nadamos nos mares imprevisíveis da vida e estamos fadados a engolir água em alguns momentos. "Onde está Deus nessa hora?" alguns podem perguntar; "Como pôde permitir uma coisa dessas?" e o coração pesa de indignação por ver pessoas que "não merecem" passando por perdas e situações difíceis. Afinal, com "tanta gente ruim por aí...". Ou os espiritualmente superiores diriam : Sinal dos tempos! Outros aplaudiriam dizendo "Bem que mereceu!". 

Isso prova que Deus não é uma força punitiva, Ele dá de ombros para o juízo humano por saber de sua limitação . Tampouco é um Pai super-protetor. Ele não nos tira da água - mas nos ensina e ajuda a nadar.

Onde está Deus?
É simples: se você parar de olhar em volta chorando e procurando a quem culpar, em pânico, querendo saber quem foi o safado que empurrou você pro mar durante a tempestade, sentirá braços te mantendo à tona na água,  poderá vê-lo  bem aí...ao seu lado.

Você é grandemente responsável pela sua sobrevivência. 



 

sábado, 11 de maio de 2013

Dando à luz



Vem mais um dia de calendário, homenagens e presentes às mães como manda a tradição do segundo Domingo de Maio. Lindas flores.

Mando esta mensagem então em homenagem à minha mãe, meu filho, a todas as mães de todos os filhos pedindo ao grande Pai de todos nós que nos dê a luz de que tanto precisamos.

Um Poema de Nascer

Eu vejo um mundo imenso, dado à luz pela criação.
Universo grandioso, tempo e espaço aqui e em paralelo.

Minha pequena presença,
 meu grande desejo de ampliar meu "sou" tornando-o "pertenço".

Não sou rotina, nem negócio;
Sou matéria condensada, recriatura, pó perfumado e divina centelha, sopro e palavra, faísca com asas coloridas de borboleta.
Alegria e tristeza, ira e doçura, sonho e sandália, fraqueza e vontade - muita vontade.
Mãe e filho, mundo sem mito, muito milagre.

 Ao Baba yetu (Pai Nosso), Que está em toda a parte,
Que saibamos valorizar Tua existência;
Que Tua sabedoria seja viva em nós;
Que o Teu grande plano seja realizado entre nós conforme o concebeste; 
Ajuda-nos a conquistar nosso sustento;
Perdoa nossas falhas e limitações e que sejamos capazes de fazer o mesmo para com nosso próximo;
Ajuda-nos a vencer nossas fraquezas superando os desafios com fé e coragem,
Obrigada. Amém.
( releitura pessoal da oração Pai Nosso, Jesus Cristo, Mateus, 6:9-13)



Video de hoje -Baba Yetu (Pai Nosso em Suahili):  http://www.youtube.com/watch?v=r6qi393Z7L8


sexta-feira, 19 de abril de 2013

Ciclos


“O mistério inicial de toda a jornada é: em primeiro lugar, como o viajante chegou ao ponto de partida?” 
― Louise Bogan, poeta, em  Journey Around My Room - 

O que nos torna quem somos? Uma vez que começamos, temos que manter nos nossos passos a esperança de que eles nos levarão para o lugar ao qual pertencemos no ciclo da nossa história, mesmo que  muitas vezes não possamos compreendê-lo completamente. Estamos aqui não para saber, mas para aprender a caminhar. 

Bom final de semana!


segunda-feira, 15 de abril de 2013

Filhos da Pátria


Gay não pode casar. Daniela Mercury casou com uma mulher.
Joelma Calypso disse que não pode, mas também garantiu que isso tem cura.
Gay pode casar em Portugal. O Feliciano condena em nome de Deus. 


Vitor Deppman, estudante, não reagiu ao assalto. Vitor está morto.
Marisa Deppman, mãe de Vitor,  está de braços vazios. Alguém viu o Feliciano?
Avisem a Maria do Rosário!
O assassino vai passar (se passar) no máximo 3 anos em reclusão em uma casa para menores infratores. Ele era menor de idade quando cometeu o crime.

Enquanto as capas das principais revistas do Brasil debatem as opções sexuais do brasileiro e os legisladores brincam de ser adultos, os menores de idade fazem pós-graduação em criminalidade.

Não bastasse isso, um número cada vez maior de menores é usado como "escudo" por criminosos adultos para se esquivarem da imputação penal.

"Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos" - Preâmbulo da Constituição brasileira de 1988.

A Pátria mãe não vem sendo nada gentil em zelar pelos princípios fundamentais e pelos direitos individuais expressos em nossa Constituição, a saber: "erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais" e " promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação." ( Art. 1º)  ". Ou quem sabe: 
(Art. 5.o) Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade" - esse já virou clichê (ou será que virou piada?).

Preocupado com a cama do brasileiro, o poder continua inapto a zelar pela garantia à segurança, à vida e à dignidade do cidadão porque alguns filhos da P...átria preferem discutir quem casa com quem lá no cartório. 

Em nosso país, o menor de 16 anos pode votar, mas não é penalmente imputável por seus crimes.

Casamento gay não é permitido pelo Estado. Mas adolescente pode matar, traficar e não responder criminalmente por isso . Será que isso também tem cura, Joelma? Segurança e direito penal são questões urgentes para o poder público. Os braços de dona Marisa Deppman continuarão vazios, como os de muitas outras mães, pais, filhos e irmãos, porque não temos competência para discernir entre as prioridades e as competências do poder público.

MAIORIDADE PENAL AOS 16 ANOS JÁ:  Sem ela o Brasil nunca vai sair da puberdade.