quarta-feira, 26 de junho de 2013

Entre a Serpente e a Pomba


"Sejam, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas."  - Jesus Cristo - 




Olhei para o espelho. Ele se transfigurou em uma tela onde vi situações, pessoas, atitudes que eu não queria mais em minha vida.
Esse desapego é uma lição difícil.
Em todas as suas formas, sejam coisas, pessoas, lugares, situações: pesa a  incerteza quanto a sermos ou não capazes de continuar em frente sem aquilo que nos é familiar, seja bom ou ruim. É conhecido, estamos acostumados com o que nos aflige e com o que é confortável...e o desconfortável também.

Na grande maioria das vezes, só nos desprendemos quando alguém rompe as amarras na outra ponta da corda. Preferimos manter laços ruins, ainda que arrastando todo o peso atrelado à eles, a ficar com as mãos livres para agarrar o desconhecido e sermos forçados a superar nossos medos. É um vício de viver o mesmo respirando rotinas infames.

"- Eu não quero mais isso. Não tenho mais tempo." foi o que ouvi internamente.
E comecei a mudar. Comecei a afastar de mim pessoas e lugares que não me faziam bem. Parei de forçar-me à pessoas, lugares e situações que me faziam sentir mal por conta de valores impostos ou mera conveniência, ou porque era o que os outros esperavam que eu fizesse. Ao lixo com essas cobranças! Perdoar pessoas, superar as situações e feridas não implica em conviver, não precisamos permanecer próximos à nada nem à ninguém que nos faça mal: Prudência das serpentes. Encerramos o capítulo e seguimos nosso novo e revigorante caminho: Simplicidade das pombas.

Temos que manter perto pessoas que amamos e que nos amam também. Temos que buscar caminhos que nos sejam favoráveis e lutar por essas conquistas. Temos que seguir em frente, rumo à renovação, ao crescimento, ao melhor. Ainda estou no processo, aprendendo a me apegar mais ao verdadeiro que ao conveniente, me apegar mais ao que me faz bem do que ao entulho deixado à minha porta. Estou aprendendo a varrer.

Apesar dos conflitos pessoais que isso gera, o resultado é indescritivelmente libertador e amplia nossas fronteiras a limites inimagináveis inicialmente. 
Ferimos e somos feridos no processo, não há como ser de outra forma. Mudar dói. Sempre. Mas sem mudança não há movimento, e sem movimento não há vida. 

Vou seguir meu caminho a passos mais largos, mais leves e mais livres.

Segue o novo vídeo:




Link do vídeo: CLIQUE AQUI

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Gritos em Lilliput





“Há diferença entre nada fazer e nada ter que fazer.”
 Lemuel Gulliver em "As Viagens de Gulliver"

Em 1726, quando o escritor Irlandês Jonathan Swift escreveu o clássico da literatura "As viagens de Gulliver", uma crítica à vida política e à hipocrisia social de seu tempo, provavelmente não imaginava que a terra Brasil pudesse, no final das contas, tornar-se a terra de Lilliput.
No livro, Swift conta a história de um homem desiludido com o mundo que buscava aventuras em viagens de navio, chegando à Lilliput após um naufrágio, despertando cercado por homenzinhos que o haviam amarrado enquanto dormia.


Séculos depois estamos aqui, em plena Copa das Confederações, como Gulliver após o naufrágio, acordando para soltar as amarras que nossos algozes utilizaram para nos imobilizar durante nossa longa perda de consciência. 

Enquanto escrevo, ouço os estrondos dos tiros com balas de borracha e bombas de efeito moral utilizadas pela força policial para conter o quebra-quebra e a multidão em protesto perto daqui. Gritos de guerra, bolas de futebol, spray de pimenta e, como não poderia deixar de haver, aproveitadores e violência - o espetáculo triste proporcionado por vândalos (contratados ou não) com o objetivo de desmoralizar o povo e sua demanda legítima, e de tirar proveito da aglomeração para roubar e deixar vir à tona o animal enjaulado dentro de si. Os "Yahoos" citados por Swift em seu livro.O ônus do amadurecimento de um país. 

Gigante pela própria natureza, roncava em sono profundo hibernando em alienação e futilidade enquanto, sem perceber, era imobilizado pelos homenzinhos de Lilliput, para quem tornou-se um estorvo e uma ameaça ao despertar.

Gente pequena não gosta de gigantes, e os ataca e quer amarrar por temer sua força. Por isso não raro os gigantes são retratados como idiotas, para que sua força seja ridicularizada e fragilizada por sua imbecilidade. Mas a realidade não é bem essa. Pelo menos nem sempre.
Gigantes podem ver as estrelas mais de perto, percorrer distâncias maiores, suportar mais peso, fazer mais e, se tiverem sabedoria, usar sua força na medida certa e de forma construtiva sem menosprezar o que é detalhe.
Gigantes são difíceis de derrubar. Contudo, uma vez caídos, seu peso pode exigir um grande esforço para que possa levantar.

Assim, ainda que com grande esforço, o gigante desperto poderá erguer-se e ampliar o alcance de sua visão.
Que a final da Copa não seja o final do processo, para que o gigante não apague a luz e vá dormir novamente em berço esplêndido.

Levantar diante da adversidade é um desafio diário, até para gigantes.

O vídeo é especialmente feito para esse post, publiquei hoje no youtube:







quinta-feira, 13 de junho de 2013

Risco

"Guardem os lápis!"

Desafiava meus alunos durante uma aula de pintura na universidade em uma tarde de Quarta-feira.
Alguns me olharam como se perguntassem: "- Como assim?"
 
"- Assim como para a vida não há ensaio, só há preparo, na arte só há estudo, não há rascunhos. Em ambos os casos, vence a ousadia. Agora guardem os lápis e usem seus pincéis, mãos e tintas."

Risco. Pode ser um traço no papel. Pode ser a diferença entre a vida e a morte.
Pode ser a distância entre o sucesso e o fracasso. Pode ser o tempo entre os passos.

Estudos recentes publicados na área da neurologia estabelecem uma taxa de sobrevida  de 5 à 10 anos para portadores de tumores cerebrais benignos, ou 93 meses conforme outras publicações. É o risco calculado. É o meu risco calculado. Certo, mas ainda não definido pra mim. Minha tarefa é tentar, várias vezes ao dia, enquanto durarem os dias.

Risco. Um contrato compulsoriamente assinado entre a vida e cada um de nós no momento em que nascemos.

Assumir as escolhas, optar por uma direção, fazer ou não fazer, dizer ou não dizer. Em todos os casos, corremos riscos.

A diferença entre a vitória e a derrota é o uso que se faz delas. No meu caso, o uso é a luta, não seu desfecho.

Há pouco tempo recomecei a fazer vídeos, ainda estou enferrujada, mas espero que este os inspire: