sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Pão e Chocolate

Feliz aniversário! 
Hoje completo  exatos 7 anos de nova vida.
Na manhã de uma Quarta-feira de cinzas, 22 de Fevereiro de 2012, recebi a notícia de que um tumor no meu cérebro estava me matando. Então eu me permiti morrer, pra poder nascer de novo.

Deixei morrer em mim meus medos, minhas culpas e, principalmente, minhas mágoas. Deixei morrer minha preocupação com o que os outros diziam ou pensavam ao meu respeito. Deixei morrer a necessidade de controlar, de ter que dar conta de tudo. Também deixei morrer a dificuldade de dizer “ não “, a dificuldade de dizer o que sentia de forma clara, objetiva, transparente porque tinha que ser “boazinha" ou por medo de rejeição. Deixei morrer a pessoa que tinha que ser perfeita. Eu realmente morri pra muita coisa. Foi um período de aridez e esvaziamento do ego, das verdades absolutas, das crenças inquestionáveis.

Aquilo não foi um fim, foi um recomeço.

Descobri que a rotina faz você se tornar um ser que respira sem estar vivo,  que morrer para algumas coisas pode ser bom e que é necessário morrer várias vezes ao longo da vida, deixar que se decomponha aquilo que não tem mais utilidade em nós, o que não edifica, para deixar florescer a verdadeira fé. Desapeguei do que me privava da liberdade de ser “ eu “ no sentido mais pleno. O tumor secou junto com minhas mágoas.

Eu, por outro lado, renasci. Reinventei meu caminho, redesenhei meu espírito, minha consciência, sobrevivi. Criei uma nova realidade ao meu redor. Virei criança na alma pra viver minha aventura de pão e chocolate, sujando os dedos e as bochechas. Aprimorei a mente com o avanço da maturidade. Aprendi a sorrir de novo, a sorrir diferente, me divertir sozinha e achar graça nas minhas mancadas. Dançar na cozinha, fazer mais careta. Fiquei mais generosa comigo. Curei uma vida mofada. Arranquei os demônios que me atormentavam com convicção e sem constrangimentos.

7 anos se passaram. Morri mais duas, três vezes nesse período.

Posso até ultrapassar a marca dos 10 anos , se der. E se não der...o tempo não importa mais, não limita mais. 5 à 10 anos, a marca média dos que sobrevivem ao primeiro ano com tumores inoperáveis no cérebro, nas estatísticas médicas. 10 anos aqui, a eternidade além daqui. O que importa é a possibilidade de ressurgir em todo o tempo, em todo o espaço. Não importa quanto tempo temos. Importa o quê fazemos nesse tempo.

Não está feliz? Está doente? Lutando contra dificuldades? Sem ânimo? Frustrado? Então deixe morrer em você o que lhe impede ou limita a sua felicidade. Escolha um novo dia de aniversário, hoje mesmo, e se permita nascer de novo para aquilo que te faz bem. O resto é só entulho acumulado.

Se você viveu ou está vivendo uma vida engessada ou alguma situação que tenha lhe feito perder a perspectiva e a esperança, receba a mensagem: é hora de recomeçar, de mudar, de desapegar daquilo que te priva da plenitude da felicidade. Não importa que idade você tenha: renasça!! Feliz aniversário pra quem quiser declarar que quer nascer de novo pra vida, pra sempre, porque a vida é eterna: nunca finda, só muda de forma.

Segue o vídeo:

 

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Apocalipse e o vôo do rato rouco

Café da manhã. Hora de preparação para responder ao chamado do  dia.


Bombardeio de notícias sobre a indignação do povo com as falcatruas políticas que se desdobram no Brasil e no mundo, comoção com o triste acidente aéreo que ceifou esta semana mais de 70 vidas, centenas de sonhos e as histórias de pais, filhos, maridos e profissionais que não irão mais acontecer por conta de uma pessoa corrupta que quis economizar no combustível. 
Mensagens, mensagens, mensagens. Vídeos e áudios incansavelmente repassados, convocações para protestos, o público expressando sua revolta e a lama que impede o movimento aumentando a cada pá retirada deste poço.
Um suspiro profundo, olho para o controle remoto e dou um click que restabelece o silêncio.

Cabe perguntar o quê está acontecendo e por quê está acontecendo.
As emoções acaloradas das pessoas impedem-nas de ver a verdade. Em vão serão os brados retumbantes em microfones, celulares e megafones que criam a ilusão de protesto nas ruas e na internet, sem antes o devido silêncio de um momento de profunda reflexão individual: MEA CULPA, MEA CULPAMEA MAXIMA CULPA.

A corrupção política brasileira reflete a corrupção do povo brasileiro.
Exigimos dos políticos brasileiros uma conduta íntegra que, como cidadãos, uma larga maioria não tem. Quantos devolvem dinheiro a mais recebido, quantos de nós respeitam as vagas preferenciais de estacionamento e as leis de trânsito e contravenções penais, a paz pública, o espaço do outro e sua liberdade? Quantos votam em troca de benefícios à sua própria classe ou sindicato, em troca de panelas, empregos, cestas básicas, migalhas? Quantos fazem campanha eleitoral por seus amigos e parentes apenas visando benefício próprio sem sequer conhecer suas propostas?
Quantos pagam aos seus devedores, quantos dão o seu melhor nos serviços contratados em vez de fazer mal feito em prol do menor esforço ou do menor custo? Quantos respeitam horários para não "roubar"o tempo alheio? Quantos se preocupam realmente em respeitar o próximo? Quantos deixam de agir escudados no discurso do "isso não é problema meu" ou "não me pagam pra isso", ou  "não é comigo"? Todos esses comportamentos são, também, desonestidade, demonstram a corrupção do caráter, da integridade que daria algum som aos clamores de protesto.

Foi corrupção que levou ao acidente aéreo que chocou a nação esta semana. Foi corrupção individual de cidadãos que conduziu os corruptos ao poder.

O Brasil é hoje uma nação infectada por ratos que almejam voar, e eles não estão apenas no congresso, no senado federal, no Itamaraty. Eles estão, aos milhares, nas ruas, no serviço público, nas universidades, igrejas, pequenas e grandes empresas e corporações. Muitos estão em suas casas, consumindo as próprias famílias. Muitos são nossos "amigos". Muitos somos nós mesmos.  Todos querendo fazer muito barulho, sem se dar conta de que suas gargantas estão deterioradas, todos roucos.
Ratos querendo ser águias. 




Quando, finalmente, formos capazes de ascender ao nível de consciência maior que descortine a grande verdade, de que todo o mal do mundo começa em nossos próprios pensamentos e atos , menores que sejam, então poderemos ter voz novamente para esperar dos outros um comportamento melhor. A cura do mundo começa, em primeiro lugar, na minha própria cura.

Peço pelo apocalipse dos ratos roucos. Apocalipse, em grego, significa revelar, tirar o véu. Quando o véu que mantemos por vontade sobre nós mesmos for retirado e nos enxergarmos nus como Adão e Eva, expulsos do Éden da comodidade das desculpas e da procrastinação, assumindo a responsabilidade sobre nossa natureza, agindo para nosso aprimoramento e desintoxicação do ego, então nossa rouquidão será curada.


Ratos não voam, roucos não gritam. Limpemos a sujeira de nossas próprias calças antes de bradar sobre a sujeira da roupa alheia. O Brasil não tem apenas um governo corrupto, é hoje uma nação corrupta, oriunda de uma raiz contaminada desde os primórdios da sua história.
Para o nosso bem e salvação, precisamos romper essas correntes que nos aprisionam ao padrão comodista, imediatista, paternalista e irresponsável de comportamento.

Vamos viver mais esse dia. Segue o vídeo:

ALERTA DE PLÁGIO: Plágio é crime e está previsto no artigo 184 do código penal. Conheça a lei Lei 9610.




sábado, 20 de fevereiro de 2016

A Pedra e a Borboleta – Voando em Silêncio


A borboleta pousou sobre a pedra, mas algo fez com que a pedra esmagasse a borboleta. Só restou a pedra.

De repente o sol se pôs, o céu se fechou em espessas nuvens de agonia e os trovões se confundiram com os gritos dos seus pensamentos. Não há como evitar a tempestade.

Só há silêncio no coração. O que havia sido criado como certo começa a ruir ao redor, puxam-lhe as asas tentando arrancá-las e os ossos das pernas parecem pulverizar.

O evento, que para alguns pode parecer violento e triste, é bem mais corriqueiro e necessário do que se pensa (ou deseja).

Diante da indiferença, da rudeza cruel das palavras que ferem, diante de atos e gestos incompatíveis com sua natureza, alguns preferem dar as costas a si mesmos, negando sua face, permanecendo seguros longe dos espelhos.

Diferente destes, a nova lagarta irá esquadrinhar seu casulo enquanto aguarda novas asas – sim, ela voará outra vez e outra vez ainda .

Só no escuro é possível contemplar as lágrimas cintilando no escuro como se fossem estrelas na noite e deixá-las cair para que dêem lugar a novas luminescências.

O tempo... o tempo é contingência...

Por um momento, só há o silêncio e a pedra.
E na pedra foram escritas lições.

Lições que trazem a certeza de que nunca nos pode faltar uma direção para o olhar, confiança em nossos propósitos, respeito aos nossos limites e a determinação de ir além do medo...

Mas nada de abrigar-se da chuva – ela sai sob a água torrencial, dando-lhe a oportunidade de lavar seu pó ainda que corra os riscos de quem sai na tempestade... pois é preferível a morte de alma limpa à uma vida soterrada na pesada poeira do abandono de si.

Confessa o medo e usa o sorriso como escudo.
As asas de quem é capaz de ver o belo nunca são arrancadas, apenas mudam de cor.

Não há como evitar problemas, aflições nem dores. Estamos todos expostos à vida e a vida segue seu curso a despeito de nossas urgências...

Mas há como atravessar as sombras e  sair delas ainda mais fortes, se pudermos ouvir nosso silêncio. Isso significa saber quem se é e o rumo que é justo seguir.

É a garantia que temos de que nossos ossos serão restaurados e as asas de nossos sonhos não serão nunca arrancadas.

Porque a vida sem sonhos é vácuo, e se não podemos ser absolutos, jamais aceitemos ficar obsoletos.

Não aceitemos ser  pálidos, opacos nas brumas da rotina, perdidos como zumbis na esteira automática de quem não tem destino.

Não há como viver um novo futuro usando velhas muletas.


Há tempo de agonia, há tempo de restauração e há tempo de novas trilhas, novos vôos, nova vida. Sempre.


domingo, 27 de dezembro de 2015

A Vaca Jihadista e a Flor Cadáver


Manhã fresca no campo, pássaros anunciando o início do dia e a vaca, a passos lentos, ganha seu espaço para saborear o pasto verde que a espera. Arranca porções generosas de um bom capim, ingere quase sem mastigar armazenando tudo no estômago e depois, com calma, regurgita e mastiga tudo novamente para extrair do alimento todos os nutrientes de que precisa. Os ruminantes fazem isso porque precisam coletar sua comida com rapidez para não ficarem expostos à ação de predadores, para posteriormente, em segurança, processar o que ingeriram.  Dentes bons são sinal de boa saúde, já sabiam os mercadores de escravos. Ainda assim, o dito popular afirma que do “cavalo dado não se olha os dentes ”. 

Podemos entender então que não há valor naquilo que é dado, apenas naquilo que é adquirido com algum sacrifício ou pelo qual pagamos algum preço.


Somos o resultado daquilo que mastigamos, nossos acertos resultam de uma mastigação adequada daquilo que as civilizações ingeriram no decorrer dos séculos. Já os problemas de mastigação, seja por dentes ruins ou por preguiça de mastigar, leva muitos a ingerir o que foi mastigado por outras bocas, conduzindo aos erros de hoje.

Dentes: A palavra que define quem somos e de onde viemos. Não me refiro à medicina legal, refiro-me à história da humanidade. É preciso  ter os “dentes da mente” sadios e afiados, selecionando bem o que vamos “mastigar”.

Na India a vaca é um animal notoriamente sagrado, associado a divindades. Essa tradição remonta a um tempo em que as vacas eram mais escassas e seus derivados desempenhavam (como continuam desempenhando) um importante papel na alimentação hindu. Mesmo as fezes da vaca são importantes, não apenas como fertilizante do solo ou em rituais de purificação hindus, mas também porque nelas surge um cogumelo alucinógeno que também foi amplamente utilizado por antigas civilizações mesoamericanas, conhecido como “carne dos deuses”.

Já em outras culturas a vaca tem menos sorte: Ou é submetida ao abate cruel para abastecer os açougues, ou  sacrificada em rituais religiosos. Ao ruminar, a vaca aprimora a absorção dos nutrientes que lhe garantirão força e boa saúde. Sem o aparato adequado, muitos humanos imitam as vacas ruminando não com os dentes, mas com a mente. Ruminam pensamentos e sentimentos. Comportam-se como  vacas jihadistas.

A jihad que conhecemos nos noticiários é um conceito fundamentalista menor. A verdadeira jihad, a maior, manifestada no Alcorão, consiste no conflito, na  luta interior do indivíduo em busca da conquista da perfeição, do controle sobre suas paixões e da fé pura. Porém, ruminar não é o melhor caminho para este intento. Ruminar é “mastigar e mastigar de novo, depois engolir.” A reflexão é um caminho mais adequado e produtivo. Refletir é meditar e mudar a direção original, o que conduz a evolução. Já o produto da ruminação é revelado sob a forma de excremento (aquele onde brota o cogumelo alucinógeno).

Cada um escolhe a própria maneira de “processar” aquilo que absorve. Quando o resultado do que absorvemos floresce em nós, descobrimos novas nuances de nossa essência. Mas esse desabrochar nem sempre é perfumado. Conforme lidamos com nossa jihad interior, podemos acabar deixando de compartilhar jardins e nos tornamos jarros-titã isolados.

O Jarro-titã é uma espécie de “flor” que, apesar de suas décadas de vida, floresce apenas duas ou três vezes. O falo que dela surge pode chegar a até 3 metros de altura e exala um odor semelhante ao da decomposição de um cadáver. Esse odor atrai insetos carniceiros dos quais ela se alimenta. Diz a lenda que o mal odor da planta deve-se ao fato de que ela devorou quem a plantou, e o mau-cheiro deve-se a decomposição do jardineiro.

Tudo o que exala da solitária flor cadáver, do jarro-titã, é o mau-cheiro que atrai insetos carniceiros. Ela é capaz de devorar quem a plantou. Talvez a terra em que é cultivada tenha sido adubada como  esterco de uma vaca jihadista...

A questão fundamental é que, invariavelmente, absorvemos. Absorvemos tudo o que é perceptível e subliminar ao nosso redor. Somos resultado das nossas experiências e da energia delas. Ao absorver, resta a escolha entre ruminar ou refletir. Entre mastigar e mastigar de novo, engolir e somatizar ou refletir e mudar a direção original. Entre dentes ruins e dentes saudáveis. Entre usar a sua própria boca ou ingerir o que é mastigado pelos outros.

Essa escolha, contudo, não é fácil. Em nossa jihad interior buscamos fazer a melhor escolha e controlar nossas paixões. Algumas vezes somos bem-sucedidos, outras não. Importante é ir em frente, cuidar bem dos dentes para, em uma nova manhã, sair em  busca de pastos mais verdes ou, quem sabe, um perfumado jardim.



domingo, 21 de junho de 2015

Agora. Você Pode.

Agora. Você pode.