domingo, 19 de maio de 2013

Onde está Deus???




Aguardando em uma sala de espera, ao meu  lado uma mulher  com uma menina.
A garotinha devia ter uns 5 ou 6 anos, os cabelos cacheados, adornados por duas fivelas vermelhas, emoldurando as grandes bochecha rosadas. Apertava a boca, mordendo os lábios, os olhinhos escuros molhados, tentando sem sucesso conter o soluçar causado por um longo choro sentido que a fazia tremer.

A mãe tentava consolar a menina: "-Não chora, você pode ter esquecido na escolinha..."
Não me contive: "- Como é seu nome?"
Ela apertou mais os lábios. A mãe, meio sem graça, respondeu:" - Caroline. Fala com a moça, filha!"
Eu agachei até a altura dela: "- Você perdeu alguma coisa, Caroline?"
Ela acenou um "sim"com a cabeça, mas permaneceu muda.
"- É chato quando a gente perde alguma coisa, né?!"
Ela roçou o rosto nas pernas da mãe, encabulada.
"- Eu também perdi uma coisa..."
Ela virou e me olhou fixamente (curiosidade é fogo!). Continuei.
"- Eu não gostei também, fiquei triste, chateada mesmo. Depois eu descobri que sempre que eu perdia alguma coisa eu encontrava outra  melhor."
Ela enxugou os olhos com as mãozinhas. Estava mais disposta a conversar, pelo menos eu achei que estava.
"- Eu perdi a minha bolsinha da Polly..."

Antes que a constatação verbal da tragédia a fizesse desatar no choro outra vez, fiz uma cara de grande pesar:
"- Que chato isso, hein, Caroline, "- ela me interrompeu: " Na escolinha a tia me chama de Carol" 
"Pois é, Carol...o negócio é que sempre que a gente perde alguma coisa a gente precisa prestar bem atenção porque uma outra coisa muito legal vai aparecer assim...de repente!" - e cutuquei a barriga dela no "de repente". 
Ela riu discretamente, depois lembrou que precisava ficar triste outra vez pela perda da bolsinha da Polly. 

Uma outra senhora que estava sentada próxima à nós olhou por cima dos óculos, a voz grave, disse: "- Deus não devia permitir que um anjinho desse chorasse. Judiação, olha!"
Alguém chamou meu nome, era minha vez de ser atendida. "- Tchau, Carol!"

Ficou para a mãe dela a missão de ajudá-la a encontrar a "nova coisa interessante". Entrei no consultório pensando: "Obrigada, anjinho, por me lembrar dessas coisas hoje. "

A médica me perguntou como eu estava e eu respondi "Muita dor de cabeça hoje." - sem me dar conta, até que a médica me chamasse à atenção, de que eu havia dito isso com um sorriso no rosto. "- Jô doida..." ela disse, balançando a cabeça.

Perdas e ganhos. Entre eles, a experiência. Perdi alguma coisa. Algo que me era valioso. Os dias de crise me fazem lembrar dessa perda. 
Mas essa perda abriu espaço para ganhos maiores, mais valiosos e ainda mais interessantes. O preço é alto, verdade, mas se assim não fosse eu provavelmente não valorizaria...meu DNA é humano. Eu acho.

Quando algo ruim nos atinge de algum modo podemos pensar que naquele momento o "livra-nos do mal"do Pai Nosso falhou. Nadamos nos mares imprevisíveis da vida e estamos fadados a engolir água em alguns momentos. "Onde está Deus nessa hora?" alguns podem perguntar; "Como pôde permitir uma coisa dessas?" e o coração pesa de indignação por ver pessoas que "não merecem" passando por perdas e situações difíceis. Afinal, com "tanta gente ruim por aí...". Ou os espiritualmente superiores diriam : Sinal dos tempos! Outros aplaudiriam dizendo "Bem que mereceu!". 

Isso prova que Deus não é uma força punitiva, Ele dá de ombros para o juízo humano por saber de sua limitação . Tampouco é um Pai super-protetor. Ele não nos tira da água - mas nos ensina e ajuda a nadar.

Onde está Deus?
É simples: se você parar de olhar em volta chorando e procurando a quem culpar, em pânico, querendo saber quem foi o safado que empurrou você pro mar durante a tempestade, sentirá braços te mantendo à tona na água,  poderá vê-lo  bem aí...ao seu lado.

Você é grandemente responsável pela sua sobrevivência. 



 

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